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Mostrando postagens de abril, 2025

CARTA ABERTA – 19 DE ABRIL: O TEMPO DOS POVOS ORIGINÁRIOS E A PARTIDA DE FRANCISCO

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Quando éramos crianças, aprendíamos na escola que o dia 19 de abril era o "dia do índio". As semanas que antecediam a data eram preenchidas por desenhos em cartolina, cocares de papel, textos ditados e festas ensaiadas. Com mãos infantis, tentávamos reproduzir aquilo que os livros didáticos nos diziam ser a cultura indígena. Havia nesse gesto algo de bonito, uma tentativa de aproximação — mas também uma ausência profunda: a ausência de escuta real, de respeito à diversidade, de reconhecimento da presença viva dos povos originários em nosso país e no mundo. Como tantos de nós, fomos ensinados a ver o indígena como passado, como figura folclórica, como personagem que já não habita o agora. Mas os povos originários estão vivos. Estão nos rios, nas matas, nas periferias, nas aldeias urbanas e rurais. Estão nos rituais e nos corpos, nas línguas que resistem ao silêncio forçado, nas técnicas de cuidado com a terra que salvam a vida e desafiam o lucro. Estão nos saberes que atraves...

Os limites do tempo vivido: por que civilizações inteiras deixam de existir?

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A vida humana só é possível em comunidade em relação com a natureza e com o outro. Vivemos um tempo-limite. Um tempo em que a espessura que dá substância a história se comprime em bytes, e a existência humana tem a oportunidade de se equilibrar entre telescópios que decifram galáxias e algoritmos que decidem o preço do pão. Nesse tempo, perguntamo-nos: por que tantas civilizações morreram? O que permanece? E o que em nós nos sabota, impedindo uma evolução que dure mais do que um suspiro no tempo profundo? Esta série de sonetos nasce como tentativa poética de uma vivência teimosa de atravessar essa pergunta. Em vez de propor respostas definitivas, os versos tentam habitar a dúvida, convocar o espanto e escutar o sussurro do que insiste em viver. A poesia aqui é porto e passagem. Caminho que acolhe a reflexão antes do manifesto, a escuta antes da teoria, o grito antes da marcha. Que esta leitura seja um rito de reencontro com aquilo que pode, enfim, reencantar o mundo.   ...

Nosso Cotidiano: entre trens lotados, corpos exaustos e a esperança que resiste

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Um jovem acorda cedo na periferia. Ainda está escuro. Toma um café rápido, após um banho com a água que chega em sua casa pelos canos instalados com dinheiro público — obra coletiva agora praticamente doada, via concessão, ao acúmulo de alguns milionários. Sai de casa em direção à estação. Vai trabalhar. Mais tarde ainda tentará chegar à faculdade. No caminho, encontra pessoas dormindo nas calçadas, crianças pedindo nos faróis, viaturas abordando com brutalidade outros jovens como ele — corpos racializados, periféricos, cansados. O trem vem lotado. A esperança tenta se equilibrar entre os empurrões e o sono acumulado. Este lugar não é Londres no século XIX. É Suzano , Mogi das Cruzes , Itaquaquecetuba , Ferraz de Vasconcelos . É o Alto Tietê. É o Brasil real. A crítica como herança e método Mas não é só no trem lotado ou na fila do ônibus que a desigualdade se revela. Em cada farol das grandes avenidas, ela estampa os rostos de crianças que carregam balas, panos, flores e esper...

Inversão de Prioridades Ontem e Hoje: Lições do Governo Popular de Suzano (2005–2012) e os Desafios da Reconstrução

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Revisitar o passado pode ser um gesto profundamente político. Hoje, ao reler o texto publicado em maio de 2011 no Blog Plebeu , que narrava a transformação vivida pelo povo do Ramal São José, em Suzano-SP, volto a me encontrar com uma experiência histórica concreta que ajudei a construir como Secretário de Participação Popular no governo Marcelo Candido (2005–2012). Aquela reflexão, escrita no calor dos acontecimentos, relatava não só a reurbanização de um bairro, mas o início de um novo tempo na cidade: um tempo de dignidade, de inclusão e de justiça social. O governo que integrávamos foi orientado por cinco eixos estratégicos: combate à corrupção, inclusão social, desenvolvimento sustentável, cidade legal e participação popular . Não eram apenas palavras de ordem, mas guias de ação concreta. Com elas, estruturamos políticas públicas que mudaram a realidade de dezenas de milhares de pessoas. A regularização fundiária em mais de 82 áreas, os planos municipais de saneamento e mobilid...

Transporte público e justiça territorial: o que São Paulo decide reverbera no Alto Tietê

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A fala do vereador paulistano e urbanista Nabil Bonduki escancara a crise do planejamento metropolitano e os impactos da privatização nas periferias da Grande São Paulo. A mobilidade urbana na Região Metropolitana de São Paulo enfrenta um grave processo de desorganização, refletido especialmente nas cidades do Alto Tietê, como Suzano, Mogi das Cruzes e Ferraz de Vasconcelos. A ausência de um planejamento metropolitano integrado, aliado à fragmentação das políticas públicas e à crescente privatização do transporte coletivo, tem comprometido o direito de ir e vir de milhares de trabalhadores e trabalhadoras. O urbanista e vereador de São Paulo , Nabil Bonduki, tem sido uma das vozes mais lúcidas e consequentes nesse debate. Em entrevista ao Brasil de Fato , ele alertou: “A Prefeitura de São Paulo está se desfazendo dos seus quadros técnicos e entregando a gestão para o setor privado.” Essa crítica ganha ainda mais peso quando lembramos que as decisões tomadas na metrópole paulistan...

Reconhecer antes de convocar: reflexão sobre escuta, confiança e organização popular em tempos de dispersão

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Companheira, companheiro, camarada: Escrevemos esta carta em tempos de disputa dura sobre o presente e o futuro do nosso país. Temos consciência de que o projeto que estamos construindo nasce no marco da luta por um Estado democrático de direito — aquele que garanta direitos, respeite a dignidade de todas as pessoas e seja instrumento da soberania popular. Mas não podemos fechar os olhos para o que está em curso. Em São Paulo, o governo Tarcísio promove a privatização do que é público , o sucateamento das políticas sociais e o afastamento das decisões das mãos do povo . No campo econômico, vozes como a de Armínio Fraga — ao defender o congelamento do salário mínimo por seis anos — revelam a profundidade da lógica excludente e antipovo que ainda governa muitas esferas do Estado e da economia. Essa combinação entre Estado ausente , elite econômica predadora e política desumanizante tem dispersado nossa base social, desmobilizado lideranças, e ferido comunidades inteiras....

Cem Dias de Governo em Suzano: o verde que comunica e a cidadania que mobiliza… até onde?

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Por Instituto Ideias no Lugar – Abril de 2025 Nos primeiros 100 dias da gestão Pedro Ishi, duas iniciativas da Prefeitura de Suzano chamaram atenção: o Plano de Arborização Urbana e o Projeto SER – Eixo Mulher . Ambas foram celebradas como marcos simbólicos do início de governo. Mas, ao olharmos com atenção, o que essas ações realmente revelam sobre a direção política que está sendo construída? Arborização que educa... mas transforma? O Plano de Arborização mira o plantio de 1.500 mudas até o fim do ano. Projetos como “Replantar” e “Árvore FamiliAR” convidam famílias a se engajarem no plantio coletivo, oferecendo experiências educativas e reforçando o pertencimento à cidade. Iniciativas como essas são bem-vindas. Mas há uma pergunta que não pode ser ignorada: qual é o impacto real desse plano na política ambiental da cidade? A ação não informa: Qual o índice de sobrevivência das mudas? Como os plantios dialogam com o plano diretor urbano e o enfrentamento da...

A dor de incluir: o que revela o Dia Nacional da Educação Inclusiva

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Lembro da primeira vez em que vi um estudante com deficiência sendo deixado de lado durante a aula. Estávamos todos ali, no mesmo espaço, mas não na mesma experiência. Enquanto seguíamos os exercícios, ele era deixado sob a guarda de uma monitora, isolado — como se sua presença fosse um gesto de caridade, não um direito. Foi ali que me caiu a ficha: aquela escola não era, de fato, para todos. Era para quem se encaixava. Para quem aprendia “no tempo certo”, para quem conseguia acompanhar a norma, para quem não “atrapalhava”. Hoje, ao lembrar disso no 14 de abril, o chamado Dia Nacional de Luta pela Educação Inclusiva , não consigo sentir comemoração. Sinto incômodo. Sinto denúncia. Porque, se precisamos de uma data como essa, é porque o sistema educacional falhou — e segue falhando — em garantir o mais básico: o direito de aprender com dignidade. A expressão “educação inclusiva” já nasce marcada por uma contradição. Se a educação fosse de fato o que promete ser — instrumento de em...

Ao lado de Inês Paz

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Quando uma mulher levanta a voz em nome do povo, o sistema treme. Quando ela transforma mandato em mutirão, dor em cuidado, Câmara em sala de aula — é aí que tentam silenciá-la. É isso que está acontecendo com Inês Paz , vereadora do PSOL em Mogi das Cruzes, educadora, militante, filha do chão e da fé popular. Acusada, não por roubo, não por conchavo, não por abuso de poder — mas por fazer da política um serviço coletivo. Por ajudar quem precisa. Por fazer do gabinete um espaço de solidariedade real. O Ministério Público lançou uma denúncia. Ainda não recebida pela Justiça. Sem julgamento. Sem condenação. Mas com manchetes prontas, vozes oportunistas e venenos conhecidos. Nós dizemos: não aceitaremos o linchamento simbólico de uma lutadora do povo. Não é só a Inês quem está sendo julgada. É o tipo de política que ela representa: ética, popular, feminista, feita com a base. Uma política que incomoda quem sempre governou para os mesmos de sempre. Lembramos aqui de Antígona , qu...

DESPERTA SUZANO! Panfleto Poético de Conscientização Popular em Suzano

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do Palco e do Padrinho No aniversário a cidade vira palco, Com luz, fogão, fogos e celebridade. Mas por trás da cortina e do estalo, Há contrato, vaidade e falsidade. A firma paga, mas não por bondade: É a mesma que limpa ou asfalta o asfalto. O “presente” é dívida disfarçada, Com lucro certo e povo feito de salto. Quem dança nesse palco, dança por quem? O povo aplaude, mas sem hospital. O som explode, mas e o bem comum? No fim, é festa pra manter o mal. Mas a verdade — teimosa como ninguém — Canta mais alto e chega como um tamborim. "Se a festa é luxuosa, o povo desconfia — quem paga o artista, esconde a covardia!" da Traição Silenciosa De um sonho antigo feito em mutirão, Surgiu um grupo com raiz no chão. Mas veio a fome, o cargo, a tentação, E a base ruiu sem revolução. Marcelo foi abrigo e horizonte, Mas viu seu povo ser cooptado aos poucos. Calaram as ideias, secaram a fonte, Ficaram só sorrisos falsos e roucos. A oposição virou quase m...

IRA! — Quando a resistência pega o microfone

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Quando a resistência é feita por uma banda como o Ira! , tudo muda de figura. Muda a amplitude da mensagem, quebra muros entre bolhas que não se falavam, conecta o grito da periferia com os ouvidos do centro, e reverbera nos becos, nas universidades e até nos púlpitos. Não é só rock. É o plebeu falando alto com guitarra distorcida. É a dor e o sonho da cidade traduzidos em versos como "Envelheço na Cidade" ou "Dias de Luta". E quando isso acontece, o povo se sente representado. O plebeu com sua irreverência e rebeldia se vê nas letras, mas também se percebe parte de algo maior — algo que as filosofias críticas, as ciências sociais e as teologias da libertação sempre buscaram: dar nome ao sofrimento e transformar a realidade. Formada em 1981, em plena ditadura de transição, o Ira! surge como resposta estética e política à pasmaceira cultural e ao autoritarismo. Com raízes no punk e no rock nacional, a banda se tornou um dos maiores símbolos do inconformismo musi...

Feliz dia, Eliane Lourenço – uma travessia em quatro tempos

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Na esquina da rua 12 com a viela do campo desativado, Seu Zé aquece o rango no isopor. Macarrão com salsicha. Diz que aprendeu com o tempo que revolução também é estômago cheio. Ao lado dele, a TV do bar em volume alto fala do fim do mundo: inflação, golpe no país vizinho, ministro falando grosso com o povo. Mas ninguém ali desliga o som. Porque o mundo, pra quem sobrevive com vale-transporte vencido e fé torta, já se esfarela todo dia — só muda o narrador. "Essa gente aí nunca comeu marmita fria", comenta Seu Zé, apontando pra tela. "Maria Antonieta de hoje não é mais rainha, é influenciadora. E continua achando que a gente quer brioche." A risada que explode no boteco é mistura de amargura e ironia. Mas é ali, entre um gole de café preto e outro de esperança velha, que se forma a síntese da nossa conjuntura: o Brasil de 2025 é um país em disputa entre a estética da elite gourmet e a ética da marmita resistente. Enquanto isso, a esquerda — aquela que um dia c...

Nota de Conjuntura do Plebeu | Abril de 2025

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Entre Maria Antonieta e Gorender: a esquerda em crise de enraizamento A recente entrevista da ex-deputada Manuela d’Ávila à Folha de S.Paulo provocou um incômodo necessário no campo da esquerda. Ao afirmar que "a esquerda está isolada" e que "a dificuldade nas ruas é evidente e óbvia", Manuela dá corpo a um sentimento vivido por amplos setores militantes: a percepção de que, enquanto a extrema direita ocupa o imaginário popular com narrativas simples (ainda que mentirosas), a esquerda institucionalizada se mostra distante, ritualizada e paralisada. Essa percepção não é apenas fruto de análise racional. É uma experiência vivida de fratura — entre base e direção, entre representação política e vida cotidiana, entre o que se diz e o que se pratica.  Pela lente fenomenológica, essa crise se revela como um descompasso existencial: a esquerda já não se reconhece nas ruas, e as ruas, cada vez mais, não reconhecem a esquerda. A metáfora de Maria Antonieta, evocada por Ma...

Gestão Democrática: o Coração da Educação Inclusiva

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No dia 14 de abril , celebramos o Dia Nacional de Luta pela Educação Inclusiva — uma data criada em 2004 pelo Sistema Conselhos de Psicologia para mobilizar a sociedade em defesa de políticas públicas que garantam direito à educação para todos e todas , especialmente para quem historicamente foi excluído do processo educacional. Mas não basta apenas garantir o acesso à escola. É preciso transformar a escola em um espaço verdadeiramente inclusivo, democrático e acolhedor . E para isso, a gestão democrática é peça-chave. A democracia na escola transforma o cotidiano A gestão democrática não é um detalhe técnico. Ela é uma postura política e pedagógica , que reconhece o protagonismo da comunidade escolar na construção do projeto educativo. Quando estudantes, famílias, professoras, funcionários e agentes comunitários participam das decisões escolares, a escola se torna mais sensível às necessidades concretas das pessoas . Na prática, isso significa escutar as demandas de estudant...