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Mostrando postagens de outubro 7, 2025

O Tempo e o Fogo

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Ontem o fogo subiu o morro. Não era um incêndio distante, desses que aparecem na televisão e passam logo depois de uma reportagem sobre economia. Era o fogo vivo, ardendo no pasto, chamando pelo nome da gente, queimando perto das raízes e dos telhados. Dava pra sentir o cheiro da terra virando cinza, e entendi o que é o tempo quando decide falar com força: ele não avisa, não pede licença, apenas mostra que mudou. A colina que sempre resistiu, verde mesmo em agosto, amanheceu seca demais — e bastou um descuido, um fósforo, um gesto velho de limpar o terreno com fogo para que a natureza, cansada, respondesse com fúria. Dizem que as queimadas fazem parte do ciclo da roça, que o pasto precisa se renovar, que é assim desde os tempos dos avós. Mas não é mais o mesmo tempo. O sol de agora é outro, a umidade foi embora, os ventos mudaram de rumo, e o fogo já não obedece a ninguém. Desta vez ele pegou onde nunca tinha pegado. Subiu o morro, cercou árvores antigas, assustou pássaros, e fez o c...