IRA! — Quando a resistência pega o microfone


Quando a resistência é feita por uma banda como o Ira!, tudo muda de figura. Muda a amplitude da mensagem, quebra muros entre bolhas que não se falavam, conecta o grito da periferia com os ouvidos do centro, e reverbera nos becos, nas universidades e até nos púlpitos.

Não é só rock. É o plebeu falando alto com guitarra distorcida. É a dor e o sonho da cidade traduzidos em versos como "Envelheço na Cidade" ou "Dias de Luta". E quando isso acontece, o povo se sente representado. O plebeu com sua irreverência e rebeldia se vê nas letras, mas também se percebe parte de algo maior — algo que as filosofias críticas, as ciências sociais e as teologias da libertação sempre buscaram: dar nome ao sofrimento e transformar a realidade.

Formada em 1981, em plena ditadura de transição, o Ira! surge como resposta estética e política à pasmaceira cultural e ao autoritarismo. Com raízes no punk e no rock nacional, a banda se tornou um dos maiores símbolos do inconformismo musical brasileiro. Seu nome, inspirado no Exército Republicano Irlandês, já é um grito contra a ordem — mas um grito organizado, estratégico, com direção.

Ao longo dos anos, mesmo com idas e vindas, rupturas e reconciliações, o Ira! nunca deixou de ser essa antena sensível, que capta as tensões do tempo e transforma em canção aquilo que o povo muitas vezes só consegue gritar em silêncio.

A volta da banda em 2014, depois de sete anos de recesso, mostrou que a ira continua viva. E não só viva — atualizada. Em 2020, lançam "Mulheres à Frente da Tropa", ecoando o clamor feminista. Participam de shows ao lado de Rappin’ Hood e Tony Tornado, misturando rap, soul e rock — conectando tempos, ritmos e lutas.

Quando uma banda assim se posiciona, a cultura popular ganha potência de manifesto. O palco vira trincheira. O microfone, megafone de denúncia. E a música, combustível para uma insurgência amorosa, coletiva e necessária.

Porque, no fundo, o que o Ira! nos ensina é que a arte que não se curva, transforma. E que, enquanto houver injustiça, haverá som. Grito. E resistência com guitarra.

Tem Luta!

Sigamos!

SEM ANISTIA PRA GOLPISTA!!


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