Cem Dias de Governo em Suzano: o verde que comunica e a cidadania que mobiliza… até onde?
Por Instituto Ideias no Lugar – Abril de 2025
Nos
primeiros 100 dias da gestão Pedro Ishi, duas iniciativas da Prefeitura de
Suzano chamaram atenção: o Plano de Arborização Urbana e o Projeto
SER – Eixo Mulher. Ambas foram celebradas como marcos simbólicos do início
de governo. Mas, ao olharmos com atenção, o que essas ações realmente revelam
sobre a direção política que está sendo construída?
Arborização
que educa... mas transforma?
O Plano
de Arborização mira o plantio de 1.500 mudas até o fim do ano. Projetos
como “Replantar” e “Árvore FamiliAR” convidam famílias a se engajarem no
plantio coletivo, oferecendo experiências educativas e reforçando o
pertencimento à cidade.
Iniciativas
como essas são bem-vindas. Mas há uma pergunta que não pode ser ignorada: qual
é o impacto real desse plano na política ambiental da cidade?
A ação
não informa:
- Qual o índice de
sobrevivência das mudas?
- Como os plantios dialogam
com o plano diretor urbano e o enfrentamento das ilhas de calor?
- Quais espécies estão sendo
priorizadas?
- Que orçamento e equipe
técnica sustentam essa política?
Sem
essas respostas, há o risco de que a arborização se torne apenas uma “política
de selfie”: visível, simpática, mas superficial.
A
incoerência estrutural: o caso do aterro e a várzea do Tietê
A
narrativa ambiental da gestão entra em contradição quando se considera o apoio
da prefeitura ao aterro da várzea do Rio Tietê, um projeto que agride
diretamente uma das áreas de maior importância ambiental da região. Mesmo com
alertas de riscos hidrológicos e impactos na biodiversidade, o governo
municipal tem defendido esse modelo, mostrando alinhamento com interesses
econômicos contrários à sustentabilidade real.
Não
bastasse isso, casos recentes de corte de árvores sadias no centro da cidade,
como registrado por moradores e pela imprensa, reforçam a percepção de que a
política ambiental do governo é mais cosmética do que transformadora.
O verde
que se planta num domingo pode ser o mesmo verde que se corta numa terça-feira.
Mulheres
em pauta... mas sem política?
Já o Projeto
SER voltou ao Cineteatro Wilma Bentivegna com uma palestra sobre os
direitos das mulheres. A iniciativa, que faz parte da programação dos 100 dias,
visa formar lideranças comunitárias, tratando também dos eixos Juventude, PcD e
Idosos.
No
entanto, é notável a ausência de propostas estruturais voltadas às mulheres.
Não se fala em:
- Combate à violência
doméstica e institucional.
- Acesso à saúde integral da
mulher.
- Fortalecimento das redes de
apoio e proteção.
A pauta
dos direitos das mulheres exige mais do que eventos. Exige política pública,
orçamento, serviços e escuta real da sociedade civil.
Entre
o símbolo e a estrutura
As duas
ações divulgadas pela Prefeitura compartilham um traço comum: forte carga
simbólica e comunicacional, mas pouca densidade estrutural. É como se o governo
quisesse mostrar sensibilidade e participação — sem, no entanto, transformar as
bases das políticas públicas.
A
cidadania se constrói com árvores plantadas, sim — mas também com florestas
preservadas e políticas ambientais sustentáveis. Da mesma forma, se constrói
com discursos sobre os direitos das mulheres — mas, sobretudo, com serviços
públicos garantidores de dignidade e proteção.
Seguimos
vigilantes
A
oposição responsável deve reconhecer os acertos, mas também apontar as lacunas.
E nesse caso, Suzano precisa mais do que marcas de 100 dias: precisa de um
governo comprometido com o futuro, com planejamento técnico, participação real
e justiça social concreta.
Seguimos
em vigília. Por uma Suzano verdadeiramente verde e igualitária.
Publicado
por Instituto Ideias no Lugar
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