Postagens

Mostrando postagens de dezembro 24, 2025

O altar, o sonho e a necessidade mítica da cultura

Imagem
Há algo na cultura que antecede a forma, a lei e a razão. Algo que não nasce da escassez, mas do excesso. Antes de qualquer organização social, antes da técnica e do discurso sistemático, o humano parece ter intuído a necessidade de um lugar — um ponto de suspensão — onde a vida pudesse ser colocada diante de si mesma. Esse lugar é o altar. Não apenas o altar religioso, mas o altar simbólico: o espaço onde o mundo é interrompido para que um sonho possa ser acolhido. Essa necessidade não é abstrata. Ela é quase orgânica, intestinal. Como se a consciência, ao se descobrir lançada num mundo instável e finito, precisasse erguer um eixo em torno do qual o sentido pudesse circular. O altar não é, em sua origem, um instrumento de poder; é um dispositivo de cuidado. Ali, algo frágil é depositado — uma imagem, uma esperança, um temor — para não se perder no fluxo indiferenciado da existência. O que se coloca no altar é sempre um sonho. Não um devaneio qualquer, mas aquele sonho que insiste,...