Entre o Estado e o Comum: Boulos, Lula e a dialética do poder popular

Há gestos que dizem mais que palavras. A nomeação de Guilherme Boulos para a Secretaria-Geral da Presidência da República é um desses momentos em que o tempo histórico se condensa num ato político. O líder que nasceu das ocupações urbanas chega agora ao coração do governo — e o que parece mera troca de cargos revela, sob a superfície, um movimento de fundo: o reencontro entre o Estado e o povo. Desde o início do terceiro governo Lula, a esquerda vive um dilema que é, antes de tudo, dialético . Para governar, é preciso conciliar forças diversas — o centro institucional, os setores econômicos, as alianças parlamentares. Mas para transformar, é preciso manter acesa a chama popular que lhe deu origem. Entre a necessidade de governabilidade e o desejo de transformação, o governo caminha sobre a corda bamba do possível. A nomeação de Boulos é a tentativa de equilibrar novamente essa tensão , trazendo de volta para o Planalto a pulsação das ruas. O novo ministro não é um nome qualquer. ...