Padre Júlio: agonia, angústia e liberdade
Há acontecimentos que não se encerram no fato, na notícia ou nas conversas. Eles permanecem vibrando, como um ruído baixo que atravessa o cotidiano e altera o modo como respiramos. Nos cutuca e nos desafia. O ataque sofrido por Padre Júlio Lancellotti pertence a essa ordem. Não é apenas um episódio político, nem apenas uma crise eclesiástica vergonhosa. É um acontecimento que nos alcança por dentro, produzindo agonia e angústia, deslocando o eixo do que julgávamos seguro. A agonia surge primeiro. Ela é quase física. Um aperto silencioso diante da constatação de que alguém que encarna, com rara coerência, o núcleo ético do Evangelho — a presença junto aos pobres, a defesa incondicional da dignidade humana, a recusa da exclusão — torna-se alvo de perseguição pública. A agonia nasce quando percebemos que aquilo que deveria proteger — a cidade, a política, a própria Igreja — se move, por ação ou omissão, contra quem testemunha o essencial. É a sensação de sufocamento que emerge quando o ...