Reconhecer antes de convocar: reflexão sobre escuta, confiança e organização popular em tempos de dispersão
Companheira, companheiro, camarada:
Escrevemos esta carta em tempos de disputa dura sobre o presente e o futuro do nosso país.
Temos consciência de que o projeto que estamos construindo nasce no marco da luta por um Estado democrático de direito — aquele que garanta direitos, respeite a dignidade de todas as pessoas e seja instrumento da soberania popular.
Mas não podemos fechar os olhos para o que está em curso.
Em São Paulo, o governo Tarcísio promove a privatização do que é público, o sucateamento das políticas sociais e o afastamento das decisões das mãos do povo. No campo econômico, vozes como a de Armínio Fraga — ao defender o congelamento do salário mínimo por seis anos — revelam a profundidade da lógica excludente e antipovo que ainda governa muitas esferas do Estado e da economia.
Essa combinação entre Estado ausente, elite econômica predadora e política desumanizante tem dispersado nossa base social, desmobilizado lideranças, e ferido comunidades inteiras.
Diante disso, dizemos: é tempo de reconstrução. E só se reconstrói com povo organizado.
Diante disso uma proposta: reconhecer antes de convocar
Talvez seja hora de outro movimento.
Não de “lançar um projeto”, não de “abrir inscrições”, não de “chamar para uma reunião”.
Talvez seja hora de começar com o reconhecimento recíproco.
- Antes de pedir para o outro participar, é preciso reconhecer o que ele já construiu.
- Antes de levar uma proposta, é preciso escutar o que pulsa nos territórios.
- Antes de formar uma rede, é preciso reconhecer os vínculos que ainda resistem — frágeis, mas vivos.
O que é a Tática do Reconhecimento Recíproco?
- É uma prática.
- É uma postura.
- É uma forma de fazer política com dignidade.
Ela parte do princípio de que ninguém se organiza verdadeiramente por imposição, interesse ou protocolo, mas sim por sentido compartilhado, escuta mútua e confiança construída.
Por que ela é necessária agora?
- Porque há muitas redes, mas poucos vínculos reais.
- Porque há muito convite e pouca escuta.
- Porque há projetos demais — mas poucos processos verdadeiros.
- Porque há muita pressa e pouca paciência histórica.
E principalmente: porque quem está machucado pela política precisa ser cuidado pela escuta.
Não se reconstrói confiança com formulário.
Se constrói com presença, com palavra verdadeira, com escuta atenta, com coerência.
Perguntas para nós, militantes e educadores populares
- Você já foi chamado para algo que ignorava o que você já fazia?
- Já sentiu que a “participação” era simbólica ou protocolar?
- Já viu gente boa se queimar em projetos mal pensados?
- Já sentiu solidão, mesmo cercado de “parceiros”?
Se sim, talvez esta tática seja também para você.
Como praticar o reconhecimento recíproco?
- Comece pelo pequeno. Pela confiança. Pelo particular.
- Em vez de convidar, pergunte.
- Em vez de montar estrutura, se aproxime das sementes já plantadas.
- Em vez de mapear lideranças, construa laços com pessoas reais.
- Em vez de propor um calendário, construa um ritmo comum.
O que podemos semear com isso?
- Núcleos verdadeiros, mesmo que pequenos.
- Redes baseadas em vínculo, não em vaidade.
- Projetos que nascem do chão, e não só do edital.
- Uma organização popular que não se impõe, mas floresce com o tempo, o afeto e a escuta.
Seguimos aprendendo. Seguimos lutando. Seguimos perguntando.
Se esse texto te tocou, se ele conversa com alguma experiência sua, compartilha com alguém.
E se quiser conversar, estamos por aqui.
Sem prometer nada além da nossa escuta, da nossa disposição e da nossa vontade de reconstruir a esperança — desde baixo.
Com respeito, firmeza e ternura,
Instituto Ideias no Lugar
Quer somar?
Estamos iniciando o enraizamento de um projeto que une:
- economia circular
- soberania digital
- cuidado com o território
- protagonismo popular
Se você acredita que seu coletivo, escola, grupo, igreja ou associação pode caminhar junto — manda uma mensagem.
Vamos começar com escuta e com confiança.
Porque o mundo que queremos só se constrói com quem o sonha de verdade.
Tem Luta!
Sigamos!!
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