O veneno suave da notícia patrocinada

Há coisas que parecem pequenas, passageiras, quase invisíveis. Uma matéria de jornal, por exemplo. Ninguém se detém muito: lê-se no intervalo do café, comenta-se na rede social, esquece-se depois. Mas, às vezes, nessas pequenas coisas mora o destino de um país. Foi assim quando li a matéria paga da Bloomberg sobre a Eletrobras. Dizia o texto, em tom solene: “A maior concessionária de energia elétrica da América do Sul se espalha pelo Brasil (...). Assim como o país que ajudou a criar, a Eletrobras deveria ser uma potência econômica.” Parecia elogio, mas era veneno. Pois não foi a Eletrobras que criou o Brasil — foi o Brasil, por meio do Estado, que criou a Eletrobras em 1962. Ali, no limiar da história, um país ousava afirmar sua soberania, erguer empresas próprias, sonhar com desenvolvimento. E dois anos depois, em 1964, veio o golpe militar patrocinado pelos Estados Unidos, para conter o excesso de ousadia de um povo que queria andar com as próprias pernas. Décadas mais tarde, a ...