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Mostrando postagens de maio, 2025

Maio das Trabalhadoras: O Mês Termina, Mas a Luta Recomeça

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Maio chega ao fim. Mas o que ele plantou em nós continua florescendo. É o mês em que o povo trabalhador do mundo inteiro levanta a cabeça e lembra: não nascemos para obedecer em silêncio, mas para transformar a vida com as próprias mãos — e com o próprio tempo. Desde as greves de Chicago em 1886 até as mobilizações de hoje, uma bandeira segue tremulando: trabalhar para viver, e não viver para trabalhar. E é com esse sopro de memória e esperança que encerramos maio — com o coração apontando para o que virá. A luta contra o regime 6x1 — essa engrenagem perversa de seis dias de trabalho para um de descanso — entra agora numa nova fase : a construção de um plebiscito nacional, popular, participativo. Vamos consultar o povo. Vamos escutar os trabalhadores. Vamos fazer a pergunta que muitos não ousam fazer: você concorda com uma jornada que rouba seu tempo de viver? A vida não pode caber só no trabalho O regime 6x1 se espalhou como praga em nome da eficiência. Mas quem o vive sabe...

Da Alienação à Produção: A Tecnologia como Ferramenta de Emancipação Popular

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Em meio ao emaranhado de fios invisíveis que nos conectam, pulsa uma oportunidade histórica: transformar a relação que temos com a tecnologia. O celular que carregamos no bolso é, na essência, um computador. Um capital concentrado e, ao mesmo tempo, pulverizado, acessível a quase todas e todos. Porém, este acesso, que poderia ser libertador, muitas vezes nos aprisiona em um papel de meros consumidores: clicamos, compartilhamos, consumimos... mas não compreendemos. Não produzimos. Da mesma forma que os medicamentos industrializados nos afastam dos saberes tradicionais sobre o uso das plantas, a tecnologia moderna tende a ser apresentada como uma caixa preta , inacessível e intocável. Mas há caminhos para romper esse cerco. Assim como é possível substituir o omeprazol pela espinheira-santa , ou a dipirona pelo mil-folhas , podemos substituir a visão fetichizada do hardware — como um aparato inalcançável — por uma compreensão aberta: saber que um processador , uma memória , um ...

Consciência de Classe no Século XXI: Entre a Fábrica, o Algoritmo e o Sonho

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No início do século XX, entre guerras e revoluções, o filósofo húngaro György Lukács escrevia sobre um tema que ainda hoje nos inspira e questiona: a consciência de classe. Ele via, com os olhos da história, que sofrer não basta. É preciso compreender o porquê do sofrimento, quem lucra com ele e, mais ainda, como organizá-lo como força transformadora. Lukács diferenciava duas realidades: a classe em si e a classe para si . A primeira é objetiva — todos os que vendem sua força de trabalho, ainda que não se reconheçam como parte de um todo. Já a classe para si nasce quando essas pessoas passam a se enxergar como parte de um mesmo processo de exploração e, por isso, decidem lutar juntas. A consciência de classe é, então, mais do que uma noção moral ou uma ideia sociológica: é uma forma de despertar coletivo . Mas entre Lukács e nós há um século de abalos. No tempo dele, a luta era feita no chão da fábrica, no sindicato, na greve, na construção de partidos. A industrialização avança...

Como a linguagem, a filosofia e a luta nos trouxeram até a Inteligência Artificial

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Hoje, muita gente se pergunta como funciona o ChatGPT, de onde vem essa “inteligência” que responde perguntas, escreve textos, debate com estilo e até simula emoção. Mas poucas se perguntam: o que aconteceu na história do pensamento humano para que uma máquina pudesse operar com linguagem? A inteligência artificial que hoje nos fascina — ou ameaça — não nasceu de um truque técnico. Ela é o fruto de uma longa caminhada de perguntas, contradições e disputas sobre o que significa falar, compreender, ensinar, traduzir, nomear. Este texto é um convite para voltar algumas casas no tabuleiro da história — e entender como chegamos até aqui. Quando tudo era palavra Lá na Grécia Antiga, muito antes de haver eletricidade, Platão já se perguntava se as palavras capturavam a verdade das coisas. Para ele, os nomes eram sombras das ideias eternas. Aristóteles, por sua vez, foi mais prático: organizou a lógica com sujeito, predicado, categorias. Ele não sabia, mas estava plantando a semente ...

NOTA PÚBLICA: EM DEFESA DA HISTÓRIA VIVA DA LUTA ANTIRRACISTA EM SUZANO

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A chamada “1ª Conferência Municipal de Promoção da Igualdade Racial de Suzano”, convocada para o dia 17 de maio de 2025 sob o tema “Igualdade e Democracia: Reparação e Justiça Racial”, carrega em seu título uma grave tentativa de apagamento histórico das lutas travadas pelo movimento negro organizado no município nas últimas décadas. Entre os anos de 2005 e 2012, Suzano esteve na vanguarda da promoção da igualdade racial, sendo uma das primeiras cidades do Alto Tietê a realizar conferências municipais em sintonia com o Governo Federal, com ampla participação dos movimentos negros, culturais e sociais. Desses encontros nasceram propostas e delegados que atuaram diretamente nas esferas estadual e nacional, contribuindo para a formulação da Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial (PNPIR). Suzano também foi pioneira na região ao oficializar o dia 20 de novembro como feriado municipal, reconhecendo o Dia da Consciência Negra como data de resistência, memória e reparação. Esses...

Ética, Ordem e Disciplina: A Pedagogia do Conflito e o Combate à Ilusão Cívico-Militar

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Ética, ordem e disciplina são elementos de cultura que possuem origens distintas. A ética nasce da interioridade, da consciência crítica e do desejo humano de justiça. A ordem, enquanto princípio, surge da necessidade de coesão social — nem sempre justa, mas funcional. A disciplina, por sua vez, tem raízes no adestramento, seja militar, monástico ou escolar, configurando-se como ferramenta de moldagem comportamental. Tomados em sua complexidade, esses três vetores não são necessariamente complementares. Quando subordinados a um projeto autoritário, entram em choque. A ética, que pressupõe liberdade e pensamento, colide com a disciplina cega. A ordem, quando erigida como valor absoluto, tende a sufocar a crítica. A disciplina, se não mediada pela pedagogia, torna-se punição. É exatamente nesta contradição que floresce o equívoco das escolas cívico-militares . Defendidas como solução para a “crise educacional”, essas escolas prometem disciplina como remédio para a desordem, hierarq...

Soberania Simbólica: Quem nomeia o mundo, molda o mundo

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Vivemos uma época em que as guerras não se travam apenas com tanques ou decretos. A principal batalha do nosso tempo é travada no território dos símbolos. Quem domina a linguagem, domina o imaginário. Quem controla os algoritmos, redesenha o desejo. Quem impõe os signos, organiza o mundo à sua imagem. É nesse contexto que propomos um conceito que nos parece urgente: soberania simbólica . Soberania simbólica é o direito dos povos de nomear o mundo com suas próprias palavras. É a capacidade coletiva de produzir sentidos, conceitos, visões de futuro e narrativas que não estejam subordinadas à lógica do lucro, do medo ou do silenciamento. É um gesto de insurgência contra o epistemicídio, contra a publicidade que dita valores, contra os monopólios digitais que nos vendem distração como se fosse liberdade. É retomar aquilo que Paulo Freire já nos ensinava: quem não pode dizer sua palavra, não pode ser sujeito da sua história. Hoje, os símbolos estão sequestrados. Palavras como “famíl...

José Mujica: a semente que nunca morre

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Morreu ontem, aos 89 anos, o ex-presidente do Uruguai, José “Pepe” Mujica . Mas dizer “morreu” é dizer pouco, ou talvez errado. Porque um ser humano com esta dimensão e com esta estatura nunca morre . Muito além do tomateiro — que ele prometeu cultivar ao deixar a presidência — está a experiência concreta, profunda e militante que Mujica encarnou com a lucidez de quem viveu no limite entre o cárcere e a liberdade, entre o silêncio das solitárias e a força dos parlamentos. Mujica não governava apenas com decretos, mas com o exemplo sereno : o da renúncia aos luxos, o da vida na chácara, o do Fusca velho, o da política como extensão do cuidado. Sua vida foi um gesto contínuo de amor pelo comum, pelo povo, pelos que sujam os pés de barro e lavam a alma em esperança. Foi guerrilheiro, foi presidente, foi agricultor, foi filósofo dos gestos simples. Mas acima de tudo, foi humano em sua radicalidade . E isso, num mundo anestesiado pela aparência e pelo mercado, é talvez a mais revoluc...

Leão XIV: a escolha de um nome, o sinal de um tempo

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Neste oito de maio de 2025 o mundo assistiu à eleição do novo pontífice da Igreja Católica. E não foi uma escolha qualquer: o novo Papa adotou o nome Leão XIV, gesto carregado de simbolismo histórico e de oportunas e preciosas repercussões políticas e espirituais para o futuro da Igreja e do mundo. Em seu primeiro discurso, Leão XIV falou com serenidade e firmeza: saudou os povos com a paz de Cristo, agradeceu a Francisco, reafirmou o espírito sinodal e se declarou discípulo de Santo Agostinho; falou de pontes, diálogo, proximidade, caridade e missão. O tom é de continuidade. Mas o nome escolhido aponta para algo mais, uma inflexão histórica que merece atenção, uma convocação: Leão XIV e a memória da Rerum Novarum. Ao escolher esse nome, o novo papa se alinha diretamente à figura de Leão XIII, autor da encíclica Rerum Novarum (1891), que inaugurou a Doutrina Social da Igreja. Aquela carta apostólica foi um divisor de águas: denunciou os abusos do capitalismo industrial, defendeu o dir...

Leão XIV: entre a continuidade sinodal e o retorno ao confronto com as estruturas

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A escolha do nome Leão XIV, em vez de João XXIV, é um gesto carregado de significado político e teológico. João XXIII, ao convocar o Concílio Vaticano II, tornou-se símbolo da abertura, da pastoralidade e da renovação eclesial. Escolher “João XXIV” seria uma sinalização de continuidade explícita com as reformas conciliares. No entanto, Leão XIV aponta para outra dimensão: a do enfrentamento histórico com as “coisas novas” do mundo moderno, como fez Leão XIII em 1891 com a encíclica Rerum Novarum . O novo papa não nega a linha pastoral de Francisco — pelo contrário, reafirma a centralidade de uma Igreja sinodal, missionária e próxima dos que sofrem. Mas ao escolher Leão XIV, indica um desejo de intervir nas bases morais e sociais da organização global, como fez a Doutrina Social da Igreja no final do século XIX ao confrontar o capitalismo liberal selvagem e o socialismo autoritário. A Rerum Novarum não foi apenas um documento pastoral; foi uma intervenção nas estruturas. Ao proclamar o...

Justiça e reexistência: uma carta aberta ao Santíssimo Papa Leão XIV

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No dia de hoje, fostes eleito sucessor de Pedro. A vossa chegada ao trono pontifício ocorre num tempo em que os gritos da Terra e dos pobres já não podem mais ser abafados com incenso. Em vossa mão repousa a cruz dos crucificados da história — os trabalhadores precarizados, os povos indígenas dizimados, as mulheres silenciadas, os corpos racializados, a juventude órfã de futuro. Diante de vós, o desafio não é apenas guiar a barca da Igreja, mas ouvir o clamor dos que sequer foram admitidos na margem da história oficial. Viemos, por esta carta, vos saudar com esperança e inquietação. O espírito da Rerum Novarum: o que nos ensinastes Em 1891, vosso predecessor Leão XIII teve a coragem de dar nome ao escândalo da exploração. A Rerum Novarum foi um sopro profético numa era em que o trabalho era tratado como mercadoria e o pobre como resíduo. Com ela, aprendemos que a justiça social não é adorno doutrinário, mas exigência evangélica. Que o salário deve ser justo. Que o trabalhador nã...

A Escola Não É Quartel: sobre a decisão do STF e a luta viva por uma educação libertadora

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Há poucos dias, o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal, decidiu suspender o julgamento sobre a imposição do modelo cívico-militar em escolas públicas estaduais de São Paulo. A decisão — tomada no dia 2 e publicada no dia 5 de maio — ainda pode ser revisada. Mas seu gesto é simbólico e estratégico: um freio necessário no avanço silencioso de uma política autoritária que vem se enraizando sem diálogo, sem base científica e sem escuta da comunidade escolar. Não se trata apenas de uma medida jurídica. Trata-se de uma brecha aberta na conjuntura. Uma microbatalha vencida dentro de uma guerra longa. Uma pausa para respirar. Para reorganizar nossas forças. Para lembrar que a escola pública — essa instituição de tantas dores e esperanças — ainda pode ser defendida, reimaginada e libertada. Não há ingenuidade aqui. Sabemos que novas decisões podem surgir a qualquer momento, revertendo essa suspensão. Mas sabemos também que a história não se move apenas pelos grandes veredictos...

A tentativa de silenciar por falsificação

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  “Ela só leu o que estava ali” – A palavra, o corte e a verdade Na sessão do dia 30 de maio de 2025, na Câmara Municipal de Mogi das Cruzes, a vereadora Inês Paz ocupava o lugar de secretária da mesa diretora. Como prevê o regimento, sua função naquele momento era a de ler as proposituras que seriam apreciadas pela casa legislativa, incluindo moções, indicações e requerimentos de diversos parlamentares. Entre essas proposituras, havia uma moção de apoio à implantação de escolas cívico-militares, apresentada por outro vereador. Inês, como secretária, fez a leitura do texto — como é sua obrigação institucional. Mas depois, nas redes sociais, a fala de Inês foi recortada, retirada de contexto e usada como se fosse uma declaração pessoal de apoio à moção. O vídeo, editado de forma maliciosa, sugere que a vereadora defende algo que sempre combateu com firmeza: a militarização da educação. A tentativa de silenciar por falsificação Esse tipo de corte não é ingênuo. É uma estr...

A costura da ilusão: o uniforme como remendo de má gestão

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“Governar não é distribuir pano. É tecer dignidade com o fio do povo.” — Ppplebeu, linha torta da história. Em Mogi das Cruzes, a prefeita subiu ao palco e anunciou, com a leveza de quem distribui bênçãos, que os uniformes escolares chegarão até o final do ano . A plateia aplaudiu. A imprensa registrou. A política seguiu seu teatro. Mas aqui no ppplebeu , a gente não aplaude antes de fazer a costura crítica. Uniforme no fim do ano não é política pública. É disfarce. É remendo. O uniforme escolar deveria ser um símbolo de dignidade para o início do ano letivo. Chegar antes da aula, não depois da nota. Acolher o estudante no começo da caminhada, não vesti-lo para a festa de encerramento. Mas em Mogi, a promessa tardia foi dita como se fosse virtude, como se não houvesse erro nenhum em deixar os alunos dez meses sem aquilo que foi prometido — e orçado — no papel. A verdade é simples: não se pode vestir a dignidade com pano entregue fora de tempo . Essa história toda escancara ...

Uniformes, Equidade e Outros Mitos: quando a política pública veste a fantasia da justiça

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Em tempos de orçamento apertado, desigualdades escancaradas e escolas públicas desafiadas por múltiplas urgências, a aquisição de uniformes escolares parece um gesto simples e nobre: vestir os estudantes, padronizar a aparência, garantir equidade. Mas será mesmo? Em Mogi das Cruzes, a novela dos uniformes escolares se tornou símbolo de algo mais profundo — e mais perigoso: o uso de mitos modernos para maquiar decisões políticas e esconder desigualdades históricas sob o véu da “técnica” e da “eficiência”. No final de 2024, ainda sob a gestão anterior, foi lançado um edital de quase R$ 100 milhões para aquisição de kits de uniforme para estudantes da rede municipal. O número de kits previstos superava em mais de duas vezes o número real de alunos matriculados. O Tribunal de Contas interveio, suspendeu o processo e apontou a falta de planejamento, risco ao erário e ausência de justificativas técnicas. Era o primeiro ato de um roteiro marcado pela nebulosidade. Veio 2025 e, com ele, ...