A Escola Não É Quartel: sobre a decisão do STF e a luta viva por uma educação libertadora
Há poucos dias, o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal, decidiu suspender o julgamento sobre a imposição do modelo cívico-militar em escolas públicas estaduais de São Paulo. A decisão — tomada no dia 2 e publicada no dia 5 de maio — ainda pode ser revisada. Mas seu gesto é simbólico e estratégico: um freio necessário no avanço silencioso de uma política autoritária que vem se enraizando sem diálogo, sem base científica e sem escuta da comunidade escolar.
Não
se trata apenas de uma medida jurídica. Trata-se de uma brecha aberta na
conjuntura. Uma microbatalha vencida dentro de uma guerra longa. Uma pausa para
respirar. Para reorganizar nossas forças. Para lembrar que a escola pública — essa
instituição de tantas dores e esperanças — ainda pode ser defendida,
reimaginada e libertada.
Não
há ingenuidade aqui. Sabemos que novas decisões podem surgir a qualquer
momento, revertendo essa suspensão. Mas sabemos também que a história não se
move apenas pelos grandes veredictos — ela se transforma nos territórios, nas
escolas, nas assembleias, nas reuniões de pais, nas sessões de câmara, nas
salas de aula que resistem diariamente ao abandono, à censura e ao
autoritarismo.
A
escola cívico-militar não é uma solução educacional. É um projeto ideológico.
Um retrocesso disfarçado de ordem. Uma política que prefere a obediência ao
pensamento, o controle ao cuidado, a farda à escuta.
E
por isso, toda e qualquer suspensão desse projeto deve ser comemorada não como
ponto de chegada, mas como oportunidade de avanço. Porque construir uma
política educacional forte, democrática, inclusiva, emancipada e humanizada não
é fruto de um decreto iluminado. É obra coletiva e contínua. Feita de
macroestratégias e de microgestos. De lutas nacionais, sim — mas também de resistências
nos microterritórios, nas periferias, nas salas abafadas e nos quintais
sonhadores.
Cada
estudante que levanta a mão para fazer uma pergunta e não para pedir licença
para existir. Cada professora que improvisa com afeto o que o Estado nega com
orçamento. Cada grêmio que se recusa a ser domesticado. Cada vereador ou
vereadora que vota contra esse modelo em nome de uma escola viva, plural,
aberta e acolhedora.
Tudo isso importa. Tudo isso é política educacional.
Seguiremos
atentos. Seguiremos críticos. Seguiremos vivos. Porque a escola pública é uma
semente de futuro. E o futuro, definitivamente, não usa coturno.
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