Soberania Simbólica: Quem nomeia o mundo, molda o mundo
Vivemos uma época em que as guerras não se travam apenas com tanques ou decretos. A principal batalha do nosso tempo é travada no território dos símbolos. Quem domina a linguagem, domina o imaginário. Quem controla os algoritmos, redesenha o desejo. Quem impõe os signos, organiza o mundo à sua imagem.
É nesse contexto que propomos um
conceito que nos parece urgente: soberania simbólica.
Soberania simbólica é o direito
dos povos de nomear o mundo com suas próprias palavras. É a capacidade coletiva
de produzir sentidos, conceitos, visões de futuro e narrativas que não estejam
subordinadas à lógica do lucro, do medo ou do silenciamento.
É um gesto de insurgência contra
o epistemicídio, contra a publicidade que dita valores, contra os monopólios
digitais que nos vendem distração como se fosse liberdade. É retomar aquilo que
Paulo Freire já nos ensinava: quem não pode dizer sua palavra, não pode ser
sujeito da sua história.
Hoje, os símbolos estão
sequestrados. Palavras como “família”, “progresso”, “ordem” e
“empreendedorismo” foram capturadas e ressignificadas por um projeto de
sociedade que nos quer isolados, exaustos e consumindo sem parar. As redes
sociais, em vez de praças públicas, tornaram-se shopping centers do afeto. E o
algoritmo, esse novo oráculo, empurra nossos olhos para aquilo que rende lucro
— não para o que liberta.
A disputa pela soberania
simbólica é, portanto, uma tarefa revolucionária. É saber que a luta
política passa também pela disputa de linguagem. E que não há
transformação social duradoura sem transformação simbólica. O povo precisa
recuperar o direito de contar sua história, nomear sua dor, expressar sua fé,
narrar sua utopia.
Por isso, acreditamos que a
comunicação popular não pode ser apenas resistência: ela precisa ser
construção. E construção com técnica, com ciência, com alma. Estamos falando de
reocupar o território digital, de formar novas gerações de comunicadores conscientes,
de repolitizar a linguagem.
Em tempos em que a visibilidade
se confunde com verdade, e o tráfego com legitimidade, é fundamental que nossos
coletivos, nossos mandatos, nossas escolas e nossas comunidades aprendam a
operar não só com emoção, mas com estratégia. A soberania simbólica começa
quando compreendemos que o sentido é um campo de disputa — e que estar
na rede, sem direção, é o mesmo que não estar.
Este é o momento de levantar
nossas bandeiras, mas também nossos vocabulários. De resgatar nossas palavras,
nossos mitos, nossos nomes. Porque quando o povo perde o controle dos seus
símbolos, perde também o chão da sua identidade.
E nós estamos aqui para
reerguê-los.
Tem luta!
Sigamos!
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