José Mujica: a semente que nunca morre
Morreu ontem, aos 89 anos, o ex-presidente do Uruguai, José “Pepe” Mujica. Mas dizer “morreu” é dizer pouco, ou talvez errado. Porque um ser humano com esta dimensão e com esta estatura nunca morre.
Muito além do tomateiro — que ele
prometeu cultivar ao deixar a presidência — está a experiência concreta,
profunda e militante que Mujica encarnou com a lucidez de quem viveu no
limite entre o cárcere e a liberdade, entre o silêncio das solitárias e a força
dos parlamentos.
Mujica não governava apenas com
decretos, mas com o exemplo sereno: o da renúncia aos luxos, o da vida
na chácara, o do Fusca velho, o da política como extensão do cuidado. Sua vida
foi um gesto contínuo de amor pelo comum, pelo povo, pelos que sujam os pés de
barro e lavam a alma em esperança.
Foi guerrilheiro, foi presidente,
foi agricultor, foi filósofo dos gestos simples. Mas acima de tudo, foi
humano em sua radicalidade. E isso, num mundo anestesiado pela aparência e
pelo mercado, é talvez a mais revolucionária das posturas.
Deixa-nos um legado que não cabe
em bibliotecas, porque está plantado no coração dos que ainda acreditam que a
política pode — e deve — ser ética, justa, popular, fraterna e feliz.
Que sejamos, nós, agora, os
que plantam os tomates e as ideias, os que cuidam da terra e dos outros, os
que sonham com os pés fincados na realidade — como Pepe ensinou.
E que sua partida não seja
lamento, mas chamado à coerência.
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