A costura da ilusão: o uniforme como remendo de má gestão


“Governar não é distribuir pano. É tecer dignidade com o fio do povo.”
— Ppplebeu, linha torta da história.

Em Mogi das Cruzes, a prefeita subiu ao palco e anunciou, com a leveza de quem distribui bênçãos, que os uniformes escolares chegarão até o final do ano. A plateia aplaudiu. A imprensa registrou. A política seguiu seu teatro. Mas aqui no ppplebeu, a gente não aplaude antes de fazer a costura crítica.

Uniforme no fim do ano não é política pública. É disfarce. É remendo.

O uniforme escolar deveria ser um símbolo de dignidade para o início do ano letivo. Chegar antes da aula, não depois da nota. Acolher o estudante no começo da caminhada, não vesti-lo para a festa de encerramento. Mas em Mogi, a promessa tardia foi dita como se fosse virtude, como se não houvesse erro nenhum em deixar os alunos dez meses sem aquilo que foi prometido — e orçado — no papel.

A verdade é simples: não se pode vestir a dignidade com pano entregue fora de tempo.

Essa história toda escancara um problema mais profundo: a gestão pública transformada em espetáculo. Os processos licitatórios andaram em círculos, foram suspensos, silenciados, reescritos. E agora, num gesto quase místico, a prefeita aparece com a promessa que, curiosamente, coincide com o calendário eleitoral e o fim do ano letivo. Coincidência?

No palco do poder, a roupa vira alegoria. Mas a vida real acontece nos bastidores: mães sem resposta, escolas improvisando, crianças indo para aula como dá. E o mais grave: a naturalização desse atraso como se fosse normal.

Mas o ppplebeu resiste. Porque enquanto o discurso tenta costurar um elogio à eficiência, a realidade mostra que o uniforme virou remendo simbólico para cobrir a má gestão. Uma cortina de pano tentando esconder o descaso com a educação pública e com o respeito à infância.

Não, prefeita, não está tudo bem. Porque quando o uniforme chega atrasado, ele não resolve — ele só tenta camuflar o que já está desbotado: a confiança pública.

Queremos uniforme? Sim. Mas queremos também respeito, planejamento e justiça social. Porque o tecido que mais importa não é o da camiseta, mas o do compromisso com as comunidades escolares.

E ao povo que lê o ppplebeu, deixamos uma costura final: fiquem atentos quando a política começar a parecer desfile. Pode ser que estejam tentando fazer do cidadão um cabide — e da escola, um palco


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