Seleção tem visto negado por Governo Trump.
É com indignação, ainda que não com surpresa, que recebemos a notícia de que uma seleção nacional de voleibol foi impedida de participar de um torneio internacional nos Estados Unidos por negação de vistos pelo governo estadunidense. A matéria, veiculada na grande imprensa, revela mais do que uma falha burocrática: expõe, com brutal clareza, os mecanismos silenciosos de exclusão política, simbólica e geopolítica que seguem operando sob o verniz da democracia liberal.
É
importante dizer com todas as letras: os Estados Unidos não têm o direito de
definir, sozinhos, quem entra e quem participa do mundo.
O
veto não é apenas à entrada física de uma equipe esportiva. O veto é simbólico:
é um não ao direito de um povo de se apresentar no cenário
internacional, de disputar em pé de igualdade, de existir no campo do
reconhecimento. E isso é inaceitável.
A
geopolítica dos vistos é uma das formas mais perversas e naturalizadas de racismo
sistêmico internacional, onde passaportes não valem pela sua base legal,
mas pelo seu lugar na hierarquia global.
Não
se trata de um episódio isolado. Trata-se da continuidade de uma lógica de monopólio
do mundo, que exclui, silencia e deslegitima aqueles que não se alinham às
diretrizes dos donos do tabuleiro. Neste caso, o esporte — que deveria ser
símbolo de união e paz — torna-se palco de mais uma jogada suja da
diplomacia seletiva.
É
preciso denunciar. É preciso dizer: multipolaridade não é retórica — é
exigência civilizatória.
O
blog ppplebeu se soma às vozes que exigem respeito, equidade e justiça
entre os povos. O mundo não pode continuar girando em torno dos caprichos de
uma potência que, por trás dos sorrisos diplomáticos, segue negando ao outro o
direito de existir.
Quando
o império veta o jogo, revela-se o medo: o medo da igualdade.
De
fato, uma notícia como essa — em que uma seleção nacional é impedida de
participar de um torneio internacional por negativa de vistos por parte dos
Estados Unidos — expõe, com clareza desconcertante, as contradições profundas
da ordem internacional vigente.
Num
mundo que clama por multipolaridade real, respeito mútuo entre as nações
e uma busca incansável por equidade epistemológica, cultural e política,
o uso instrumental da política migratória como mecanismo de exclusão
geopolítica é um retrocesso grave.
Essa
atitude reforça a assimetria entre o poder de circulação das elites e o cerceamento
de mobilidade imposto às populações e delegações de países considerados
“menos estratégicos” ou “não alinhados”. Estamos diante de um tipo de censura
diplomática travestida de política de segurança, que fragiliza os pilares
mais básicos do espírito olímpico e da convivência internacional.
Mais
que lamentável, é simbólico: o país que se autoproclama paladino da
democracia e da “ordem liberal internacional” — os EUA — mostra, mais uma
vez, que quando seus interesses de dominação simbólica, econômica ou
política são desafiados, as regras da convivência deixam de valer.
Neste
caso específico, ainda que se trate de esporte, o gesto é político.
Negar
vistos a uma delegação inteira é negar o direito de representar, de
competir, de existir no espaço internacional com dignidade.
Não
se trata de um caso isolado — há um histórico de obstáculos impostos a
artistas, atletas e até representantes diplomáticos de países do Sul Global
quando estes se tornam incômodos ao centro do poder. O que está em jogo é a
própria ideia de soberania cultural e pluralidade mundial,
constantemente ameaçada por uma lógica unilateral.
O
lamento, portanto, não é apenas pelo torneio esvaziado, mas por mais um
capítulo da hegemonia autoritária disfarçada de civilização.
Tem
luta.
Sigamos!!
Confira a nota na íntegra da Federação Cubana de Vôlei
A Federação Cubana de Voleibol informa que a Embaixada dos Estados Unidos em Havana negou vistos a todos os membros da delegação que representaria Cuba no torneio feminino Norceca Final Four, a ser realizado em Porto Rico, de 16 a 21 de julho. Seus 16 membros (12 atletas, dois técnicos, um árbitro e um gerente de equipe) foram notificados nessa sede diplomática, à qual a solicitação foi apresentada de acordo com os prazos estabelecidos para tal processo.
Esse procedimento, contrário aos compromissos inerentes à responsabilidade assumida pelos países anfitriões de eventos esportivos internacionais, impede a presença de Cuba em uma competição que faz parte da rota de qualificação para os Jogos da América Central e do Caribe em Santo Domingo em 2026 e que soma pontos para a Norceca e para o ranking mundial. Trata-se de uma posição injusta e discriminatória, alheia aos princípios do esporte, que se soma ao que já aconteceu até agora neste ano contra delegações de outras modalidades, e que aumenta as incertezas sobre o que pode acontecer no futuro em relação à conduta do país que sediará os Jogos Olímpicos em 2028.
Agradecemos os muitos esforços feitos pelos organizadores, a quem informamos sobre o ocorrido.
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