Querida Mogi das Cruzes: uma integridade ferida.


No último dia 24 de junho, chegou à Câmara Municipal de Mogi das Cruzes o Projeto de Lei que foi denominado com o número 135/2025, de autoria do Executivo, que propõe instituir um “Programa de Integridade” no âmbito do Governo. A proposta chegou cercada de um discurso sedutor: ética, combate à corrupção, modernização, transparência.

Mas o que há por trás de palavras tão bem embaladas?

Logo de início, o que se viu foi um ritmo apressado e autorreferente. A mensagem da Prefeita tem data de 18 de junho e, no dia seguinte, já tramitava com pressa incomum para projetos dessa envergadura. Não houve audiência pública, escuta qualificada nem diálogo com quem vive o cotidiano da administração municipal. A tramitação atropelou até mesmo as comissões desta Casa.

Ora, se estamos falando de integridade, não podemos ignorar o básico: a integridade começa pelo respeito ao processo. E esse respeito foi, no mínimo, negligenciado. Afinal, o que significa aprovar um Programa de Integridade atropelando a integridade do próprio processo legislativo?

Essa contradição diz muito.

O texto do projeto, embora tecnicamente robusto em alguns aspectos, concentra as decisões no alto escalão da gestão. O Comitê de Integridade será formado apenas por membros do Executivo — sem qualquer assento para servidores, conselhos ou representantes da sociedade. A participação social é reduzida à denúncia individual, e o discurso da ética se esvazia diante da ausência de justiça social, equidade interna ou transparência popular.

Para piorar, o projeto exige programas de integridade das empresas contratadas, mas não impõe qualquer contrapartida social, trabalhista ou ambiental. A integridade se torna uma exigência de fachada, sem vínculos com a vida real do povo trabalhador ou com os valores que fundamentam um serviço público de fato ético.

Apesar dessas evidências, a maioria da Câmara preferiu o silêncio confortável. A exceção honrosa foi da vereadora Inês Paz (PSOL), que, com firmeza e responsabilidade, proferiu o único voto contrário ao projeto. Por isso, o blog Pplebeu — com sua liberdade editorial e espírito irreverente — registra publicamente o reconhecimento à sua coragem política.

Porque integridade é isso: é quando o gesto está alinhado com a palavra. É quando o voto se compromete com o que é justo, mesmo quando é solitário.

O que se aprovou nesta semana, infelizmente, não é um verdadeiro programa de integridade. O que se aprovou foi um instrumento administrativo com imperfeições importantes, marcado por um rito falho e desconectado da vida democrática. O resultado?

Uma Mogi com a integridade ferida.

O blog Pplebeu seguirá atento. Porque onde houver atropelo em nome da ética, haverá quem denuncie a incoerência. E onde houver verniz de moralidade para esconder velhas práticas, haverá também quem raspe o verniz — em nome da verdade, da justiça e da irreverência política que move quem não se dobra


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