Suzano entre Feridas e Futuro: o que revelam Raul Brasil, a violência e a Várzea do Tietê


da tragédia da Raul Brasil ao aterro clandestino na Várzea: por que Suzano se tornou símbolo de uma crise que ultrapassa a cidade e atinge a própria ideia de civilização.

Suzano vive um ciclo contínuo de golpes contra a vida. Desde o massacre da Escola Raul Brasil, em 2019, a cidade carregou uma das maiores tragédias de sua história sem que o poder público estruturasse políticas reais de reparação, cuidado ou prevenção. O trauma coletivo, não elaborado, tornou-se parte da paisagem social — e, como consequência, vemos crescer a violência, o medo e a sensação de abandono.

Nos últimos anos, outro sintoma grave se instalou: a destruição da APA do Rio Tietê no Miguel Badra, fruto de operações de aterro e especulação que avançam sobre o território com a conivência do Estado. Quando uma cidade não protege suas crianças e também não protege seu rio, ela revela que algo fundamental se rompeu: o compromisso com o comum.

O aumento recente dos homicídios no Alto Tietê — como mostram os dados divulgados pela imprensa regional — é a expressão direta desse colapso civilizacional. Não se trata apenas de números; trata-se de uma cidade que perdeu a capacidade institucional de cuidar da vida, da juventude, das escolas, do território e do seu próprio futuro.

A governança local tem operado sob uma lógica empresarial do espaço urbano, onde o interesse público cede lugar à captura por grupos privados, às terceirizações sem transparência, à precarização dos servidores e ao enfraquecimento dos mecanismos de controle. Essa combinação faz com que a violência, a devastação ambiental e o retrocesso democrático deixem de ser exceções e passem a compor o cotidiano.

Suzano não está condenada. Há resistência nas comunidades, nas escolas, nas lutas ambientais e nas redes de cuidado. Mas é urgente recuperar a ética do cuidado e reconstruir o pacto público da cidade: proteger a juventude, defender o território, fortalecer o Estado e resgatar o sentido de bem comum.

Uma cidade que abandona sua gente e destrói seu rio está adoecendo.
Uma cidade que se organiza para defender ambos pode renascer.

E Suzano merece renascer.

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