Suzano: Treze Anos de Solidão


De minha janela, vejo o rodoanel serpenteando o horizonte, os contornos da malha urbana de Suzano, um pedaço de Mogi das Cruzes, o sopro de Poá. Vejo também um silêncio pesado, feito de promessas não cumpridas, de obras morosas, de bairros esquecidos. É o silêncio da cidade que vive uma espécie de Macondo paulista, atravessada não por cem, mas por treze anos de abandono.

Gabriel García Márquez escreveu que Macondo foi condenada a cem anos de solidão porque não soube decifrar seus próprios pergaminhos. Suzano, hoje, carrega seus pergaminhos em relatórios oficiais, discursos de campanha e planos que não viram futuro. Pergaminhos que anunciam não um destino inevitável, mas um ciclo de repetição: hospitais que não abrem as portas, educação que caminha por osmose, centro que se desconecta do tempo, várzea aterrada pelo peso da especulação.

Na saúde, o povo sofre golpes sucessivos: o hospital de retaguarda sem portas abertas, o hospital regional transformado em obra midiática, a Santa Casa jogada no vaivém de contratos e rupturas, agora órfã de responsabilidade pública.
Na educação, o vazio é pedagógico e político: não há projeto que inspire, apenas improviso, e improviso não educa.
Na cidade, os bairros minguam em investimentos, enquanto o distrito de Palmeiras se torna território da especulação imobiliária, conduzido ao ritmo de interesses privados, sem plano urbano, sem sonho coletivo.

Esta é a solidão de Suzano: a solidão de um povo que olha para o futuro e encontra o vazio; a solidão de um município que poderia ser centro pulsante do Alto Tietê, mas que se torna periferia de si mesmo.

Mas há, também, uma diferença decisiva entre Macondo e Suzano.
Macondo estava condenada no mito. Suzano ainda pode escolher.
Treze anos de solidão não precisam se tornar cem.

A cidade pode romper seus pergaminhos, pode escrever outro destino:

  • exigir saúde de verdade, com portas abertas e gestão transparente;
  • exigir educação com plano político-pedagógico que inspire a juventude;
  • exigir um projeto urbano que organize a expansão, que preserve a várzea, que enfrente a especulação;
  • exigir que a política volte a ser espaço de criação coletiva, não apenas de marketing eleitoral.

Porque a solidão não é destino, é abandono.
E abandono se combate com consciência, com organização, com luta.

Se Cem Anos de Solidão nos ensinou algo, foi que a repetição mata, mas a memória liberta. Que o esquecimento condena, mas a consciência abre caminhos.

Suzano não precisa ser Macondo.
O povo de Suzano não precisa aceitar a solidão.
É tempo de rasgar os pergaminhos do abandono e escrever, juntos, uma nova história.

Um grande abraço Marcelo Candido. Uma volta bem vinda!


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