Suzano-SP: Dados Públicos ou Dados Manipulados?

Nos últimos dias, tres veículos de comunicação local, Jornal Oi, Gazeta Popular e Diário de Suzano, divulgaram uma série de matérias sobre o desempenho de Suzano-SP no ranking "Desafios da Gestão Municipal", elaborado pela consultoria Macroplan. Ambos os jornais destacaram que Suzano seria a cidade "melhor posicionada da região" e enfatizaram especialmente os avanços na segurança pública. No entanto, uma análise mais aprofundada dos dados e do contexto revela uma interpretação que pode distorcer a real situação do município, especialmente ao comparar Suzano com cidades menores e ignorar desafios importantes.

1. O Contexto da Comparação: População e Critérios

O estudo da consultoria Macroplan inclui apenas os 100 municípios brasileiros com mais de 200 mil habitantes. Em nossa região do Alto Tietê, apenas três cidades atendem a esse critério: Suzano, Mogi das Cruzes e Itaquaquecetuba. Apesar disso, as manchetes locais sugerem que Suzano é "a melhor cidade da região", sem explicar que a comparação exclui cidades menores, como Poá e Ferraz de Vasconcelos, que não possuem os mesmos desafios e nem o mesmo perfil populacional. Essa omissão distorce a percepção do leitor, levando-o a acreditar que Suzano está à frente de toda a região em termos de gestão pública, quando, na realidade, a comparação foi restrita e desigual.

2. Segurança Pública: Destaque Justo ou Ênfase Exagerada?

Ambas as matérias destacaram que Suzano teve um grande avanço na segurança pública, com uma redução significativa na taxa de homicídios, de 13,7 para 3,9 por 100 mil habitantes. Embora essa queda seja, de fato, um ponto positivo, o foco exclusivo na segurança pode criar uma percepção incompleta. Nosso estudo mostrou que, embora a segurança tenha melhorado, há diversos outros fatores que também precisam ser considerados, como a efetividade do policiamento comunitário e o investimento contínuo na infraestrutura e formação dos profissionais de segurança.

Além disso, é essencial perguntar: essa redução na taxa de homicídios realmente representa uma transformação estrutural ou é reflexo de políticas que ainda precisam de maior avaliação? O relatório de segurança, quando visto isoladamente, pode ser insuficiente para afirmar que Suzano tem a "melhor gestão" na região.

3. Educação e Saúde: Avanços ou Manipulação dos Dados?

As matérias locais afirmam que Suzano apresentou melhorias na educação, citando a redução no número de alunos por docente e o aumento de matrículas de crianças entre 4 e 5 anos. Porém, nosso estudo revelou que, apesar de avanços pontuais, o sistema educacional enfrenta desafios estruturais, como a qualidade da alimentação escolar, a falta de vagas em creches e a necessidade de um programa mais robusto de inclusão.

Na saúde, é mencionado que houve uma redução na mortalidade infantil para 11,3 por 1.000 nascidos vivos e um aumento no número de consultas de pré-natal. Embora esses dados possam parecer positivos, é importante observar se essa melhoria é estável ou apenas temporária, resultado de políticas públicas ou de variações pontuais nos indicadores. Também é fundamental abordar a questão do acesso universal à saúde e se todos os setores da população realmente estão sendo atendidos com qualidade.

4. Desenvolvimento Econômico e Emprego: Desafios Subestimados

Apesar da matéria indicar que Suzano está "bem posicionada" na área de desenvolvimento econômico, a realidade é que a cidade ocupa apenas a 46ª posição em geração de empregos entre os 100 municípios analisados. Esse dado, omitido ou suavizado nas reportagens, é um sinal claro de que Suzano enfrenta desafios importantes no mercado de trabalho e no desenvolvimento econômico.

Nosso estudo aponta para uma necessidade urgente de políticas mais efetivas na geração de emprego e renda, com programas voltados para capacitação da força de trabalho e incentivo ao empreendedorismo local, que poderiam transformar a economia da cidade de maneira sustentável. Além disso, a dependência do setor industrial sem uma estratégia de diversificação econômica torna o desenvolvimento de Suzano vulnerável a oscilações do mercado.

5. Saneamento e Meio Ambiente: O Que Não Foi Dito

O jornal Gazeta Popular destacou que Suzano alcançou uma cobertura de coleta de resíduos de 85%, mas omitiu que isso ainda deixa uma parcela significativa da população sem acesso a saneamento básico completo. Além disso, nosso estudo evidencia a importância de se discutir a preservação dos recursos naturais, como a várzea do rio Tietê, que vem sendo ameaçada por projetos de aterro e especulação imobiliária. Esses fatores ambientais são cruciais para uma gestão municipal equilibrada, mas foram amplamente ignorados nas reportagens.

Conclusão: Dados Públicos ou Dados Manipulados?

A análise dos dados apresentados pelos veículos locais revela uma narrativa focada em promover a imagem de Suzano como um exemplo de gestão pública, sem considerar as nuances e os desafios reais que o município enfrenta. Ao destacar áreas como segurança pública de forma isolada e omitir informações críticas sobre o desenvolvimento econômico, educação e meio ambiente, as reportagens criam uma visão parcial e otimista da gestão municipal, que pode não refletir a experiência concreta dos moradores.

É fundamental que o leitor compreenda a importância de questionar e analisar criticamente as informações veiculadas, especialmente quando são baseadas em dados públicos que podem ser interpretados de diferentes maneiras. Em nosso blog, buscamos apresentar uma visão mais equilibrada e completa, que leve em conta as reais necessidades da população e os desafios que ainda precisam ser enfrentados para que Suzano se torne, de fato, uma cidade modelo para a região.