Hegemonia: O Poder Global e Local e Seus Desafios na Era Neoliberal e Digital


Hegemonia é o domínio que um grupo exerce sobre outros, consolidado não apenas pela força, mas pela aceitação das ideias desse grupo como “naturais” ou inevitáveis. Duas formas de hegemonia são particularmente influentes atualmente: o neoliberalismo, que molda as políticas econômicas globais, e o monopólio das Big Tech, que domina a economia digital. Além disso, observamos como essa hegemonia se manifesta em nível local, muitas vezes fragilizando governos municipais e a participação cidadã. Este texto explora como essas hegemonias são construídas e os desafios para resisti-las, tanto global quanto localmente.

1. O Que é Hegemonia?

A hegemonia envolve o domínio de um grupo sobre os outros, com sua visão de mundo sendo amplamente aceita como a única forma legítima de organização social. Para isso, o grupo dominante conta com dois mecanismos:

  • Consentimento: As ideias e práticas do grupo dominante são aceitas como “naturais”. O neoliberalismo, por exemplo, naturaliza a ideia de que o mercado é o melhor regulador da sociedade.
  • Coerção: Quando o consentimento falha, o grupo dominante recorre a leis ou força para manter o controle.

2. Como a Hegemonia é Construída?

A hegemonia é construída por meio do controle de instituições que moldam as ideias na sociedade:

  • Mídia, Escolas e Redes Sociais: São veículos essenciais para difundir as ideias da classe dominante. No contexto neoliberal, promovem o consumo, a competição e a privatização como "soluções naturais" para todos os problemas sociais.
  • Intelectuais Orgânicos: Defensores que traduzem os interesses do grupo dominante para a sociedade, como economistas que promovem a austeridade fiscal e a privatização como necessárias.
  • Alianças de Poder: Governos e corporações fazem alianças para garantir que suas políticas sejam aceitas pela sociedade, muitas vezes em detrimento do bem comum.

3. O Modelo Hegemônico Neoliberal: Uma Crítica

O neoliberalismo, ao se consolidar como a ideologia dominante, tem gerado profundas desigualdades e crises sociais. Entre os principais impactos negativos:

  • Desigualdade Social e Exclusão: A concentração de riqueza nas mãos de poucos, promovida pelo livre mercado, deixa a maioria da população desamparada. O acesso a serviços públicos, como saúde e educação, é cada vez mais limitado, reforçando a exclusão social.
  • Desmonte do Estado: O Estado é minimizado sob o neoliberalismo, com funções essenciais sendo transferidas para o setor privado. Isso leva à privatização da saúde e da educação, que se tornam inacessíveis para as camadas mais pobres da sociedade.
  • Crise Ambiental: O neoliberalismo incentiva um crescimento econômico insustentável, promovendo a exploração excessiva dos recursos naturais, agravando as crises ambientais e climáticas.

4. O Monopólio das Big Tech: Controle e Exclusão

As grandes empresas de tecnologia, conhecidas como Big Tech, representam uma nova forma de hegemonia, controlando não apenas a economia digital, mas também nossas interações e decisões diárias. Os problemas gerados por esse monopólio são profundos:

  • Monopolização da Informação: A maioria das informações que consumimos passa pelos filtros dessas corporações. Elas controlam o que vemos, lemos e compramos, limitando a diversidade de ideias e promovendo uma uniformidade cultural que reforça seu poder.
  • Vigilância e Exploração de Dados: As Big Tech acumulam dados sobre quase todos os aspectos da vida das pessoas, influenciando comportamentos de consumo e até eleições. Isso levanta sérias preocupações sobre privacidade e controle democrático.
  • Exploração do Trabalho: A concentração de poder nas mãos dessas empresas gera uma exploração global de trabalhadores, ao mesmo tempo que acumula vastas riquezas em um pequeno grupo de executivos e investidores, perpetuando a desigualdade.

5. Hegemonia Local: Desafios no Cenário Municipal

Embora pareça possível que cidades e municípios possam resistir ao modelo neoliberal e construir alternativas, a realidade local é frequentemente marcada por grandes desafios. O desmonte dos serviços públicos e a infiltração do crime organizado tornam a construção de hegemonias locais justas e participativas um processo extremamente difícil. Alguns problemas enfrentados em nível municipal incluem:

  • Privatização da Saúde e Educação: A lógica neoliberal tem penetrado nas políticas locais, resultando no desmonte das escolas públicas e na privatização da saúde, o que exclui grande parte da população de serviços básicos. A destruição da educação pública mina a formação de uma cidadania crítica e consciente, enquanto a privatização da saúde transforma o direito à saúde em mercadoria.
  • Infiltração do Crime Organizado: Governos municipais, muitas vezes enfraquecidos pela falta de recursos e pela corrupção, tornam-se vulneráveis à ação do crime organizado. Esses grupos se infiltram nas administrações locais, financiando campanhas eleitorais fraudulentas e comprando votos para garantir o controle das políticas municipais, perpetuando ciclos de poder que favorecem seus interesses.
  • Desafios à Participação Cidadã: Mesmo quando há espaços para participação, como orçamentos participativos, o enfraquecimento da cidadania local causado pela precariedade econômica e pela desinformação dificulta a mobilização popular. A falta de recursos para fortalecer a democracia local favorece a manutenção de elites políticas que perpetuam a hegemonia neoliberal.

6. Pensar Globalmente, Agir Localmente: Participação e Resistência

Apesar desses desafios, as ações locais ainda têm um papel crucial na construção de resistências ao modelo hegemônico neoliberal e às dinâmicas monopolistas. Porém, é importante reconhecer que um alto grau de participação e cidadania é necessário para enfrentar a privatização, a corrupção e a infiltração de grupos criminosos nos governos locais.

  • Cidades que Resistiram: Exemplos como o Orçamento Participativo de Porto Alegre mostram que, quando há mobilização popular, as cidades podem adotar políticas democráticas e inclusivas. Contudo, esses casos exigem um esforço constante de engajamento e resistência contra as forças que buscam enfraquecer a participação cidadã.
  • Soluções Solidárias: Iniciativas como a promoção de economias solidárias e a valorização da agricultura familiar são formas locais de desafiar a lógica neoliberal e criar modelos alternativos de desenvolvimento que priorizem o bem comum e a sustentabilidade.

7. Conclusão

A hegemonia neoliberal e o monopólio das Big Tech moldam a sociedade de forma excludente e concentradora de poder, afetando profundamente tanto as esferas globais quanto as realidades locais. Nos municípios, a privatização dos serviços públicos e a ação do crime organizado criam um cenário em que a resistência se torna mais difícil, mas também mais urgente. A construção de alternativas requer uma cidadania ativa e um forte comprometimento com a participação democrática. Ao resistir localmente, podemos imaginar novas formas de organização social que priorizem a justiça, a inclusão e a dignidade.

Comentários

Anônimo disse…
Um resumo de tudo. Bem explicado e muito didático. Parabéns 👏👍

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