A Importância do Samba na Cultura Brasileira e sua Associação com o Povo Pobre, Preto e Periférico

O samba, como um dos principais símbolos culturais do Brasil, carrega em sua história um forte elo com as camadas populares, especialmente o povo preto, pobre e periférico. Sua origem remonta às comunidades afrodescendentes no final do século XIX e início do século XX, em um momento de grande segregação social e racial. O samba nasceu nas rodas de comunidades negras, sobretudo na região do Rio de Janeiro, como uma expressão de identidade, resistência e alegria, num contexto de marginalização.

A Construção do Preconceito

Desde o surgimento do samba, sua associação ao povo pobre e preto foi marcada por preconceitos enraizados no racismo estrutural do Brasil. Na virada do século, após a abolição da escravidão, a elite brasileira se esforçava para "embranquecer" a sociedade e apagar as marcas da herança africana. Nesse contexto, o samba, que emergia das favelas e das zonas periféricas, era visto como uma prática subversiva e indesejável pela elite e pelas autoridades.

As forças da criminalização e marginalização: Durante o início do século XX, o samba foi criminalizado, e aqueles que participavam das rodas de samba eram frequentemente perseguidos pela polícia. As práticas culturais e religiosas afro-brasileiras, como o candomblé e a capoeira, também foram alvo de repressão, o que refletia o preconceito institucional e a tentativa de deslegitimar a cultura negra. A mídia e os setores conservadores da sociedade promoviam uma imagem negativa do samba, associando-o ao "malandro", à "vadiagem" e ao "crime".

Quem promovia essa associação preconceituosa: As classes dominantes da sociedade brasileira, em sua maioria brancas, juntamente com a mídia e o aparato policial, foram as principais forças que perpetuaram essa visão negativa. O racismo e a segregação social impulsionaram essa marginalização, enquanto as elites buscavam valorizar manifestações culturais mais próximas dos padrões europeus. Políticos e intelectuais conservadores da época tratavam o samba como algo "menor", uma manifestação "inferior" ligada à pobreza e à falta de instrução.

O Samba como Resistência e Transformação

Apesar da repressão e do preconceito, o samba floresceu como um símbolo de resistência cultural. Para as comunidades pobres e periféricas, ele representava um espaço de identidade, onde se podia contar suas histórias, celebrar suas tradições e expressar suas dores e alegrias. O samba tornou-se uma forma de resistência às tentativas de apagamento cultural e uma maneira de reafirmar a presença negra no país.

Com o tempo, o samba passou por um processo de legitimação, especialmente após a oficialização do Carnaval e a criação das escolas de samba, que profissionalizaram essa arte e a trouxeram para o centro das comemorações nacionais. Mesmo assim, o preconceito persistia. Apenas décadas mais tarde, o samba foi abraçado como parte fundamental da identidade brasileira, mas sempre com a marca indelével de ter sido forjado nas mãos do povo marginalizado.

O Reconhecimento Tardio

Foi somente com o avanço de movimentos culturais e sociais que o samba passou a ser valorizado como uma manifestação genuinamente brasileira, merecendo reconhecimento nacional e internacional. Esse reconhecimento tardio, no entanto, não apaga a injustiça histórica sofrida por seus criadores e primeiros praticantes, o povo preto e periférico. Em vez disso, ressalta ainda mais a resiliência dessas comunidades em manter viva sua cultura, mesmo em face de tanta adversidade.


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