Tecnologia ou dominação? Por que a soberania tecnológica é urgente para a democracia


Enquanto você lê este texto, as gigantes da tecnologia — Google, Meta e outras — estão gastando milhões para moldar leis, influenciar decisões públicas e proteger seus próprios interesses. Segundo dados divulgados pela BBC, essas empresas gastaram mais com lobby em 2024 nos Estados Unidos do que qualquer outro setor — ultrapassando até mesmo os gastos da indústria bélica e da saúde privada.

O que está em jogo não é apenas economia, mas poder político.

A pergunta que não quer calar: quem governa a vida digital do nosso tempo?

Hoje, os algoritmos que definem o que vemos, o que consumimos e até como votamos são escritos por empresas que não foram eleitas por ninguém. Elas decidem o que pode ou não circular. Controlam nossos dados, moldam nossos desejos, acumulam poder simbólico, político e econômico sem qualquer compromisso com os interesses coletivos.

Quando as gigantes do Vale do Silício gastam bilhões para manter o poder, não é apenas sobre negócios. É sobre democracia.

A soberania tecnológica é uma trincheira democrática

O mundo vive um impasse. De um lado, a promessa da tecnologia como aliada da vida, da participação, da criatividade. Do outro, o avanço silencioso de uma tecnocracia corporativa que concentra decisões fundamentais nas mãos de poucas empresas, com sede fora de nossos países, que operam acima das leis, dos territórios e das vontades populares.

O que podemos fazer?

Podemos e devemos construir soberania tecnológica: a capacidade de decidir coletivamente como, quando e para quê usamos a tecnologia. Isso significa:

  • Infraestrutura digital pública e segura
  • Dados sob controle das pessoas, não das plataformas
  • Educação tecnológica crítica e emancipadora
  • Incentivo ao software livre e à ciência aberta
  • Plataformas a serviço da cultura, da agroecologia, da saúde e da justiça social
  • Cooperação entre os povos do Sul Global para produzir e governar suas tecnologias

Democracia sem soberania digital é ficção

Não se trata de romantismo, nem de saudosismo. É uma questão prática, urgente, vital. Um país que não controla sua infraestrutura digital, que depende de plataformas estrangeiras para educar, se comunicar, organizar suas eleições e seus serviços públicos não é um país soberano.

A democracia do século XXI se joga também no campo da tecnologia. E se quisermos uma democracia viva, popular e justa, precisamos reprogramar as bases do mundo digital. Não com o código da dominação, mas com a linguagem da autonomia.

Vamos colocar a tecnologia a serviço da vida? Vamos ocupar essa trincheira?
A soberania tecnológica é uma batalha do presente por um futuro possível.


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