“O silêncio como política: a estética da ordem em Suzano”
A postagem publicada pelo Diário de Suzano sobre o encontro do vereador Adilson Horse com representantes da Prefeitura parece, num primeiro olhar, apenas relatar uma ação rotineira de segurança pública. Contudo, à luz da Geometria dos Saberes, o enunciado ganha densidade simbólica: mais do que uma notícia, é uma narrativa de poder, em que o silêncio é construído como virtude e a ordem como estética moral.
Aqui
o saber da autoridade
aparece na forma do jargão administrativo — “ações integradas”, “departamento”,
“fiscalização”. O uso da linguagem técnica confere legitimidade e neutraliza o
debate, transformando uma questão social complexa (convivência urbana, lazer,
ruído, juventude) em problema operacional. A ciência se reduz à norma: o saber
técnico se converte em ferramenta de disciplinamento.
Uma
filosofia que se
manifesta na ideia subjacente de que “sossego” é o bem supremo da cidade. A
filosofia da ordem substitui a filosofia da convivência. O conflito — motor da
democracia — é silenciado em nome da paz. O pensamento se enrijece quando a
diferença sonora, cultural ou social passa a ser tratada como perturbação e não
como pluralidade.
Uma
arte mórbida se
expressa na imagem cuidadosamente composta. O fundo verde, o slogan “Missão
Dada é Missão Cumprida”, os corpos dispostos em postura de força: tudo comunica
uma estética da segurança. A visualidade produz sensação de prontidão e
autoridade. A política é encenada como quartel; o cidadão, como espectador
protegido.
A
política emerge
na centralização do protagonismo. O vereador é mostrado como coordenador de
múltiplos órgãos, mesmo que formalmente não o seja. A imagem reforça a
convergência entre o Legislativo e o Executivo locais, dissolvendo o princípio
de separação de poderes. A política torna-se administração do consenso e
controle da diferença.
Uma
ética confusa
revela-se no uso de termos como “missão”, “cumprida”, “importância”,
“alinhamento”. Há um ethos de cruzada moral: combater o ruído é combater o mal,
garantir o sossego é salvar a cidade. O discurso transforma o cotidiano urbano
em campo de purificação simbólica — o som do outro é tratado como ameaça à
virtude coletiva.
No centro
está o humano — ou, neste caso, a sua ausência. O cidadão comum, que vive,
canta, trabalha e habita o espaço urbano, não aparece. A geometria da notícia é
assimétrica: todos os vértices apontam para o poder, nenhum para a vida. O entendimento
nos ensina que, quando o diálogo entre saberes se rompe, o espaço público se
reduz a palco de representação.
* Imagem publicada pelo Diário de Suzano (2025).
A fotografia foi utilizada aqui como objeto de análise crítica à luz da Geometria
dos Saberes, preservando os direitos autorais e o contexto original da
publicação.
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