A saúde que começa pela boca: um papo com quem cuida da saúde bucal..


A saúde é um patrimônio coletivo. Vai além do bem-estar individual: constitui-se na qualidade das relações que atravessam corpos, territórios e tempos. Pessoas saudáveis constroem comunidades saudáveis. E comunidades saudáveis são aquelas que cuidam umas das outras, em todas as suas dimensões — do invisível ao evidente, do íntimo ao estrutural.

Pensar a integralidade da saúde é reconhecer que ela habita cada célula, cada gesto e cada vínculo. Ela pulsa na circulação da água, na qualidade do ar, no silêncio das madrugadas e nas cozinhas das casas populares. Está no alimento que se escolhe — ou que falta — e nas pequenas dores que se acumulam sem escuta.

Uma abordagem verdadeiramente popular da saúde pública precisa, portanto, partir da vida concreta e de suas encruzilhadas históricas. É preciso recuperar uma percepção integral da saúde, que nos permita não apenas identificar desafios, mas também construir prioridades compartilhadas, qualificar a gestão e tornar o orçamento público uma ferramenta real de emancipação coletiva.

É neste caminho que propomos um ponto de partida ousado e, ao mesmo tempo, profundamente simples: a saúde bucal como porta de entrada para o cuidado integral de adultos morando em condomínios populares e territórios periféricos.

Por que a saúde bucal?

Porque é por ela que a vida fala, cala, sorri, mastiga, sofre e resiste. Porque o cuidado com a boca é íntimo, exige tempo, escuta e vínculo. Porque é ali que se expressam silêncios profundos e dores não nomeadas. E porque o cuidado com a saúde bucal pode ser o início de um processo mais amplo de educação alimentar, fortalecimento da autoestima, valorização do território e prevenção de doenças mais graves.

Trabalhadoras e trabalhadores das periferias, quando têm acesso qualificado à saúde bucal, encontram um espaço de acolhimento que vai além do procedimento técnico. Trata-se de um lugar de escuta e de dignidade, onde se semeia a consciência do corpo como território e do território como corpo.

Por isso, defendemos uma política de saúde bucal como eixo estruturante da atenção primária nas periferias. Uma política que integre os saberes das equipes de saúde da família, os vínculos com lideranças comunitárias e o mapeamento ativo das necessidades locais. Uma política que saiba que escovar os dentes, mastigar sem dor e poder sorrir com liberdade são também direitos humanos fundamentais.

Investir na saúde bucal não é apenas um gesto técnico. É um gesto político. É um chamado para que a saúde seja, finalmente, vivida como vínculo, cuidado, pertencimento e libertação.

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