Mogi pela Palestina: Quando a Dignidade Rompe o Cerco
Por PPPlebeu – Vozes do Comum
Há gestos que não cabem no cálculo do possível, mas que se tornam necessários pela urgência da História.
Foi isso que aconteceu no ato organizado pelo coletivo Mogi pela Palestina, neste território onde o conservadorismo tenta erguer muros contra a solidariedade internacional e a crítica.
Em plena praça, no coração de uma cidade acostumada ao silêncio obediente, vozes se levantaram para dizer o óbvio: está em curso um genocídio, e o Estado de Israel é seu agente principal.
Não há como disfarçar a barbárie com retórica diplomática. Não há como fingir neutralidade diante da morte em massa.
Um ato de vanguarda no deserto simbólico
Mogi das Cruzes não é Tel Aviv, nem Ramallah. Mas a geopolítica da injustiça atravessa cada rua, cada esquina. Quando Gaza é bombardeada, a lógica do massacre reverbera aqui, na militarização das periferias, na repressão contra a juventude preta, na destruição das esperanças populares.
Por isso o ato foi importante: não pela quantidade de pessoas, mas pela qualidade histórica do gesto.
Estavam lá representantes do PSOL, do PT, da UP, de coletivos diversos e de gente que se recusa a aceitar a normalização da crueldade.
Estavam lá, sobretudo, aqueles e aquelas que entendem que a luta pela Palestina é também a luta contra o fascismo local e global.
Ousadia em tempos de cinismo
Dizer, com todas as letras, que o Estado de Israel rompe os limites da humanidade, não é apenas um ato político – é um ato de dignidade.
Num tempo em que muitos preferem o conforto das frases vazias ou a conivência dos silêncios diplomáticos, o coletivo Mogi pela Palestina ousou falar claro.
E o claro, nesse caso, é cruel: crianças, mulheres e homens são assassinados diante dos olhos do mundo. A máquina de guerra israelense não conhece limites.
E a omissão global, incluindo a do Brasil institucional, é uma vergonha histórica que precisa ser denunciada.
Por que isso importa em Mogi?
Porque há uma ligação direta entre o que acontece em Gaza e o que acontece nas vielas de Jundiapeba, no Rodeio, no Jardim Aeroporto.
O mesmo sistema que arma Israel é o que militariza as guardas municipais, expulsa os pobres do centro da cidade, privatiza a água, destrói o território.
Falar da Palestina em Mogi das Cruzes é, portanto, falar do nosso próprio destino.
É lembrar que a dignidade é uma só, e que o sangue derramado no Oriente Médio tem o mesmo valor que o sangue derramado aqui, nas abordagens policiais seletivas, na fome urbana, na exclusão da cultura e do direito à cidade.
Um começo, não um fim
O ato do último dia foi apenas o início. A luta por uma cidade menos racista, menos fascista, menos cúmplice do imperialismo não cabe em um evento. Ela precisa ser cotidiana, construída nas escolas, nos sindicatos, nas rodas de conversa e nas trincheiras do afeto.
Que o gesto de ontem inspire outras ousadias.
Que a Palestina seja lembrada não só como símbolo de sofrimento, mas como símbolo de resistência.
E que Mogi das Cruzes – mesmo no seu conservadorismo persistente – descubra que existe vida para além do medo e do silêncio.
Do lado de cá do mundo, seguimos dizendo: Palestina livre, do rio ao mar.
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