Os Três Vértices da Crise Civilizacional: Capitalismo, Imperialismo e Ignorância
“A desumanização não é apenas o resultado da exploração, mas da incapacidade de compreender o outro como sujeito.”
— Paulo Freire
I.
O Capitalismo em Ruína e a Política do Medo
O
capitalismo, em seu estágio avançado, perdeu a capacidade de oferecer sentido.
Ele sobrevive através do medo e da precariedade, convertendo o trabalho em
sobrevivência e o desejo em mercadoria. Quando a vida se reduz a índices de
produtividade, o ser humano passa a buscar, desesperadamente, uma forma de
pertencimento — e é nesse vazio que a extrema-direita encontra solo fértil. O
neoliberalismo, ao dissolver vínculos e destruir o comum, produz não apenas
pobreza material, mas também desagregação moral e simbólica. A insegurança
torna-se o cimento de novas lealdades autoritárias. A promessa fascista de
“ordem” e “identidade” é, na verdade, a nostalgia de um mundo que nunca existiu
— mas que dá forma ao medo contemporâneo.
II.
O Imperialismo da Miséria e a Colonização do Imaginário
O
imperialismo atual não se impõe apenas pela força militar ou pela dominação
econômica. Seu poder é mais sutil e mais profundo: controla os meios de
percepção. As grandes corporações globais — financeiras, tecnológicas e
midiáticas — exercem um poder quase sacerdotal sobre o modo como as pessoas
veem o mundo. O resultado é a formação de um império da miséria, não apenas
material, mas também espiritual.
A concentração de renda e de informação mantém as periferias do planeta (e das
cidades) em permanente dependência simbólica. O colonizado contemporâneo é
aquele que pensa com as categorias do dominador, sem perceber que o faz. Assim,
o imperialismo perpetua-se como uma arquitetura invisível de crenças, na
qual a ignorância não é ausência de saber, mas saber deformado — um
conhecimento manipulado a serviço da obediência.
III.
A Ignorância como Técnica de Poder
A
extrema-direita é o braço político de uma engenharia da ignorância. Ela
não apenas se aproveita da desinformação: ela a produz sistematicamente. O
esvaziamento das escolas, a vulgarização da cultura e o descrédito da ciência
fazem parte de uma estratégia de desorientação permanente. Quando o real se
torna incompreensível, a mentira ganha o poder da verdade. Essa manipulação dos
afetos é a base do novo autoritarismo: transforma medo em crença, crença em
identidade, e identidade em ódio. O resultado é uma sociedade incapaz de
pensar, mas disposta a obedecer — um deserto de sentido em que o grito
substitui o argumento.
IV.
Rumo à Reconstrução da Consciência
Superar
essa tríplice crise exige um movimento mais profundo que a reforma econômica:
requer a reconstrução da consciência coletiva. É preciso restaurar a palavra
como espaço de entendimento, a escola como território da emancipação, e o
trabalho como expressão criadora do humano. A resposta à extrema-direita não
virá apenas das urnas, mas do reencontro entre razão e solidariedade,
entre pensamento crítico e afeto político. A libertação, diria Freire, é um ato
de conhecimento — e o conhecimento, em seu sentido mais pleno, é o ato pelo
qual o ser humano volta a habitar a realidade com lucidez e ternura.

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