Comunhão


A comunhão é o instante em que percebemos que não existimos sozinhos. É o gesto de sentar-se à mesa, de partilhar o pão, de rir junto, de chorar junto. É a experiência de que a vida ganha sentido quando se abre ao outro. A comunhão não é fusão que apaga diferenças, mas encontro que as sustenta. É o milagre do plural: cada voz única compondo um canto coletivo.

Poeticamente, a comunhão é imagem da roda. As mãos dadas, o corpo que dança, o canto que ecoa em muitas bocas, mas se torna um só som. É também silêncio compartilhado: dois que se olham e entendem sem palavras. A comunhão é a certeza de que a verdade não se guarda em cofres individuais, mas se expande quando é partilhada.

Na prática, a comunhão se concretiza em gestos cotidianos. É a refeição feita em família ou em comunidade, onde o alimento se torna vínculo. É a assembleia popular, onde decisões são tomadas coletivamente. É o mutirão da roça, onde o trabalho se faz mais leve porque é feito em conjunto. É a solidariedade de quem partilha o pouco que tem, transformando a escassez em abundância.

A comunhão é também resistência. Frente ao individualismo que isola, ela constrói laços. Frente ao consumismo que fragmenta, ela cria pertença. Frente ao cinismo que divide, ela cultiva confiança. A comunhão é prática de sobrevivência nas periferias, nos quilombos, nas aldeias, nos bairros: lugares onde se aprende que só se resiste juntos.

Do ponto de vista teórico, a comunhão atravessa a tradição. Para Agostinho, a comunidade de amor era reflexo da própria Trindade. Para Tomás de Aquino, a vida comum era necessária à realização plena do humano. A modernidade, com seu culto ao indivíduo, tentou romper esse vínculo, mas mesmo nela surgiram vozes de resgate: Rousseau, ao falar da vontade geral; Marx, ao afirmar que a emancipação é coletiva; Durkheim, ao mostrar que o social é fundamento do humano. Paulo Freire viu na comunhão o coração da pedagogia: ninguém educa sozinho, todos educam em comunhão.

A comunhão, portanto, é categoria fundadora porque lembra que o conhecimento não é propriedade privada. Não se sabe sozinho: todo saber é herança, diálogo, construção partilhada. A verdade não nasce em laboratórios fechados nem em torres de marfim, mas na partilha de experiências, na circulação de palavras, na prática da solidariedade.

Conhecer é comungar. Saber é partilhar. A comunhão é a prova viva de que a vida só floresce quando é comum.


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