Nota Pública: Quando o Editorial se Cala, o Território Grita
Uma denúncia sobre o silêncio do Mogi News diante da destruição da APA do Rio Tietê.
No dia 5 de junho de 2025, Dia Mundial do Meio
Ambiente, o jornal Mogi News publicou um editorial genérico e inofensivo
celebrando o chamado “Junho Verde”. Falou-se de bons hábitos, de reciclagem, de
ações do poder público e da importância de preservar “o que ainda resta” de
natureza. Mas o que não foi dito grita mais alto do que todo o texto: o
silêncio sobre os problemas concretos que impactam diretamente o meio ambiente
na região, como a especulação imobiliária, a ausência de políticas públicas
urbanas e a destruição de áreas protegidas como a APA da Várzea do Rio Tietê.
Não se trata apenas de esperar mais de um editorial
— trata-se de apontar que ao ocultar os conflitos reais, o jornal reitera
uma narrativa de sustentabilidade abstrata, que pouco serve à população e
muito favorece os que lucram com o desmonte do território.
Desde 2023, tramita junto ao Ministério Público
Federal uma representação formal assinada por Ivan Valente, Inês Paz e Marcelo
Candido. Nela, são denunciadas as irregularidades cometidas pela CETESB-MOGI ao
conceder licenças precárias e sucessivas por mais de 10 anos à empresa
MOGIANA MINERADORA DE AREIA E PEDRA LTDA, permitindo a instalação de um aterro
de resíduos inertes em plena APA, com supressão de vegetação nativa, risco
de contaminação do solo e assoreamento de corpos d’água.
Essas autorizações, que deveriam ser excepcionais e
temporárias, foram utilizadas como instrumento contínuo de legalização da
degradação. O processo tramitou sob sigilo, ferindo os princípios da
transparência e do controle social.
Neste contexto, chama atenção a omissão de figuras institucionais que ocupam cargos centrais. O editorial menciona como referência na preservação ambiental a coordenadora da Câmara Técnica de Meio Ambiente, Solange Wuo — que também é diretora de Meio Ambiente da Prefeitura de Suzano. Foi sob sua responsabilidade que se permitiu, sem óbices ou salvaguardas públicas conhecidas, a instalação do aterro de inertes dentro da área de preservação. Seu silêncio institucional, diante de um caso dessa gravidade, não é neutro. A ausência de posicionamento técnico, a recusa ao debate público e a conivência passiva diante da violação ambiental, são formas de cumplicidade.
A omissão do Mogi News também não é neutra.
Quando um veículo de imprensa se recusa a nomear os conflitos reais do
território, ele se torna parte do problema. O jornal preferiu um editorial de
apaziguamento ambiental — ignorando a existência de um dos maiores crimes
ecológicos em curso na região metropolitana.
Mas essa destruição não é um fato isolado. Ela
decorre diretamente da ausência de uma política urbana democrática e planejada.
A falta de diretrizes sérias para uso e ocupação do solo sabota não só o meio
ambiente, mas também as políticas de habitação, mobilidade, prevenção à
violência, defesa social. Sem planejamento urbano, o território vira
mercadoria, e o povo, um dano colateral.
A política ambiental que queremos precisa de muito
mais que retórica: exige fiscalização real, educação crítica, engajamento
social e responsabilização pública. Ela precisa estar enraizada em um projeto
de cidade — uma cidade viva, justa, habitável.
"A natureza não é decoração para
datas comemorativas. É território, é vida, é horizonte coletivo. E o que está
sendo destruído pertence a todos nós."
Assinam esta nota:
Instituto Ideias no Lugar
Movimento em Defesa da APA do Rio Tietê
Mandato Popular Inês Paz – PSOL Mogi das Cruzes
Frente de Luta por Justiça Ambiental Alto Tietê
Comentários