30 de março, caminhamos para a Avenida Paulista: hoje é dia de manifestação, mas também é dia de escuta.
Hoje, 30 de março, caminhamos para a Avenida Paulista carregando cartazes, palavras de ordem e um sentimento que atravessa mais do que os noticiários e as redes sociais: carregamos em nós uma experiência de mundo que é existencial antes de ser política — e que, por isso mesmo, é política no seu sentido mais radical.
Nas
últimas semanas, mergulhamos em Ser e Tempo, de Martin Heidegger. Lá,
encontramos o conceito de ser-no-mundo: o ser humano não é um sujeito
isolado que observa as coisas de fora. Somos seres lançados no mundo,
mergulhados em relações, práticas, estruturas. Nosso ser é sempre um estar
junto, um estar afetado, um cuidar.
Mas
Heidegger também nos alerta: podemos nos perder. Podemos cair na repetição, na
distração, no impessoal. Vivemos muitas vezes segundo o “todo mundo diz”, o
“sempre foi assim”. Essa queda no cotidiano nos lembra a expulsão do
paraíso, o esquecimento do ser, a alienação de si mesmo.
E
no entanto, é desse ponto que pode nascer a libertação.
Heidegger
chama de autenticidade o movimento de retorno à própria existência.
O
Êxodo chamou isso de travessia.
Marx
chamou de consciência de classe.
A
fé católica chama de vocação.
Nós
chamamos de manifestação popular, luta concreta, caminhada existencial.
Porque
quando um trabalhador é submetido à escala 6x1, sem tempo para viver, amar,
descansar ou pensar, ele é reduzido a coisa.
Ele
deixa de ser-no-mundo e vira peça de engrenagem.
E
quando a democracia é golpeada, e seus algozes permanecem impunes, todos nós
somos jogados de volta ao mundo do falatório, da ambiguidade, da farsa.
Hoje,
ao sair às ruas dizendo sem anistia para golpista, pelo fim da escala
6x1, estamos fazendo mais do que protestar. Estamos respondendo ao
chamado de uma existência mais digna, mais consciente, mais verdadeira.
Estamos
afirmando, em alto e bom som, que queremos ser.
Hoje é dia de manifestação, mas também é dia de escuta.
Que o ruído das palavras de ordem ecoe como chamado existencial.
Que a multidão na rua nos lembre que não estamos sós.
Que a luta seja, também, caminho de retorno à casa do ser.
Tem
luta!
Sigamos!!
Comentários