Manifesto em Defesa da Democracia, Contra a Violência Política de Gênero e em Apoio à Vereadora Inês Paz
O parlamento brasileiro é amplo, diverso e vital. Com seus três níveis de governo, composição federativa e representatividade popular, estende-se por todo o território de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, enraizado em seus 5.569 municípios, 26 estados e um distrito federal. É nesse espaço, fruto da luta histórica por cidadania e justiça social, que o povo exerce, ainda que de modo desigual e tensionado, o direito de fazer valer sua voz.
O
parlamento é o mecanismo vivo da democracia. Ali se molda, no tempo e na
história, o destino da nação. Quando atacado em sua essência, todos nós somos
atacados; e a própria história corre o risco de autodestruição. Isso ocorre
quando a humanidade diversa que compõe o parlamento é ofendida em seu maior
patrimônio: o decoro, que sustenta a dignidade de seus membros e a
legitimidade da representação popular.
Na
cidade de Mogi das Cruzes, assistimos nascer um germe perigoso da
negação da vida democrática. Durante sessão da Câmara Municipal, o vereador Felipe
Lintz (PL), em ato machista, misógino e covarde, dirigiu-se à vereadora Inês
Paz (PSOL), professora aposentada da rede pública, de 73 anos, chamando-a
de “analfabeta”.
Este
ataque não é um episódio isolado. É expressão da violência política de
gênero, crime tipificado pela Lei 14.192/2021, que define como
violência toda ação destinada a impedir, dificultar, constranger, humilhar ou
restringir o exercício dos direitos políticos das mulheres. O Código Penal
(art. 326-B) prevê pena de 1 a 4 anos de reclusão e multa para essa prática.
Além disso, a ofensa também se enquadra no Estatuto da Pessoa Idosa (Lei
10.741/2003), que criminaliza atos de ridicularização ou menosprezo contra
pessoas idosas, com pena de até 1 ano de prisão e multa.
A
agressão dirigida a Inês Paz ultrapassa os limites do debate democrático:
desqualifica uma professora, agride simbolicamente todas as educadoras e
educadores que dedicam suas vidas à formação das novas gerações e fere a
dignidade de uma mulher cuja trajetória é marcada pela luta pela escola
pública, pela democracia e pela justiça social.
Não é
apenas Inês que foi atacada. São todas as mulheres que ousam ocupar espaços
políticos historicamente dominados por homens. É toda a população que, por meio
do voto, confiou a ela a missão de legislar em favor da vida e dos direitos.
A
resposta não tardou. Movimentos e organizações sociais se levantaram em
solidariedade:
- O Coletivo Impacto
Feminista e a ONG Makaúba lançaram notas públicas em defesa da
vereadora.
- A APEOESP – Subsede Mogi
das Cruzes repudiou com veemência a violência sofrida e convocou a
comunidade escolar a se somar na defesa da democracia.
- Coletivos como Mogi pela
Palestina e lideranças como Keit Lima manifestaram apoio e
indignação, denunciando a misoginia e conclamando à resistência.
- Cidadãs e cidadãos,
sindicatos, movimentos feministas e populares têm se unido em torno do
grito: “Não irão nos calar. Basta de violência política de gênero!”
Esse é o
fio condutor da nossa indignação: não aceitaremos que a política seja palco
para ataques misóginos e desrespeitos contra mulheres, ainda mais contra uma
parlamentar idosa que dedicou sua vida à educação e à luta social.
Hoje,
dizemos juntos e juntas:
- Defender Inês Paz é defender
o direito de todas as mulheres de participarem da política sem medo, sem
intimidação, sem violência.
- Defender Inês Paz é proteger
a dignidade do parlamento como casa da democracia.
- Defender Inês Paz é
reafirmar que não há espaço para o fascismo, a misoginia e o ódio em nossa
cidade e em nosso país.
Conclamamos
toda a população mogiana a se levantar contra essa violência. O ataque sofrido
por Inês não é apenas contra ela: é contra cada uma e cada um de nós. É contra
o futuro democrático que estamos chamados a construir.
Por
isso, no dia 16 de setembro, às 15h, no plenário da Câmara Municipal de
Mogi das Cruzes, estaremos presentes. Não para calar, mas para afirmar com
força e esperança:
A democracia se defende nas ruas e nos parlamentos.
A dignidade não se negocia.
A violência política de gênero não passará.
Tem Luta!
Sigamos!
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