O Vale e o Corpo
“Quando uma cidade repudia o direito de todos aprenderem juntos, não é o decreto que está em julgamento —é a própria ideia de humanidade.”— Reflexão sobre o voto da Câmara de Mogi das Cruzes, 2025 Há algo de podre no gesto de quem, em nome da pureza, ergue muros para esconder a humanidade. Chamam de ordem, chamam de decência, chamam de bem — mas o nome verdadeiro disso é medo. Medo daquilo que nos lembra que somos frágeis. Medo do corpo que não se encaixa. Medo da dor que não escolhe classe, credo nem cor. O capacitismo é essa arquitetura do medo. É o velho instinto de banir o diferente — o mesmo que já construiu leprosários, senzalas, manicômios, asilos e prisões. É o hábito de olhar o outro e ver nele o erro, o defeito, o castigo. Mas o erro nunca esteve no corpo. O erro está na cultura que transforma diferença em falha e vulnerabilidade em vergonha. Cristãos de fachada Vivemos uma era em que muitos gritam o nome de Deus, mas esquecem o gesto do Cristo. Pregam dos pú...