Se Meu Grão de Areia Falasse


Se meu grão de areia falasse,

contaria os segredos do mar,
das ondas que o moldaram,
dos ventos que o fizeram dançar.

Sussurraria histórias de eras,
de montanhas que já foram chão,
de estrelas caídas em poeira,
e do tempo que esculpe a criação.

Diria que, mesmo pequeno,
sustenta castelos erguidos na praia,
que, mesmo invisível ao mundo,
carrega em si o peso da história que desmaia.

Se meu grão de areia cantasse,
seria um canto de pertencimento,
um hino aos esquecidos,
àqueles que vivem no silêncio do momento.

E se, por um instante, pudesse brilhar,
seria a centelha de um universo inteiro,
provando que, no menor dos seres,
há um cosmos pulsando, verdadeiro.

Oh, se meu grão de areia falasse,
lembraria a todos, sem alarde:
não há existência tão minúscula
que não carregue em si a eternidade.

Carrego no grão de areia
o peso das mãos que o moldaram,
o suor de vidas que resistiram
e os sonhos que nunca se apagaram.

Cada partícula é memória,
cada sopro, uma direção.
A luta é feita de pó e força,
de passos firmes no chão.

Carrego o tempo da luta,
esculpido em ventos de coragem,
em vozes que ecoam na noite
e no calor de toda paisagem.

Não há mar que engula a história,
nem tempestade que a dissolva.
O grão é pequeno, mas eterno,
onde a justiça se renova.

Carrego o tempo da luta,
na poeira que ao longe reluz.
No grito dos que caminham juntos,
no horizonte que aponta a luz.

Se o grão pudesse falar,
diria: não há vitória sem chão.
Pois até o menor dos fragmentos
sustenta o peso de uma revolução.

O grão, discreto em seu ser,
molda a fala, ensina o pensar.
É nele que a palavra germina,
é nele que o mundo aprende a sonhar.

Pequeno, mas pleno de história,
guarda em silêncio a sabedoria.
Cada curva, um traço de memória,
cada aresta, uma poesia.

Na areia onde a luta se escreve,
o verbo se forma, a ideia floresce.
O grão, ao ser soprado no vento,
carrega verdades que a vida oferece.

Ele molda o chão e o caminho,
dá forma ao que parece disperso.
No grão, o pensar encontra ninho,
no pensar, o grão vira universo.

Assim, o grão fala sem voz,
conta o que os olhos não sabem ver.
Na luta, somos como ele:
pequenos, mas prontos a crescer.

Pois no grão há potência infinita,
de erguer castelos, moldar montanhas,
de unir o tempo, a fala e o pensar,
num só gesto que nunca se apanha.

No elemento do grão de areia,
vive a diversidade do possível.
Rochas que se quebraram em eras,
metais que dançaram o invisível.

Cada partícula traz um pedaço
de mundos distantes, de histórias cruzadas.
São fragmentos de terra e de fogo,
do céu, dos rios, das jornadas.

No grão habita a fusão infinita,
de tempos, formas e essências.
Um pedaço do todo, tão pequeno,
mas cheio de novas presenças.

Ele é barro, cristal, poeira estelar,
um caleidoscópio de existências sutis.
Mostra que o simples pode guardar
a beleza de universos febris.

O grão é feito do encontro,
de partículas que nunca se repetem.
E assim, no seio da diversidade,
é onde os sonhos se completam.

Se moldamos a fala e o pensar,
o grão nos ensina a construir:
a união do diverso é o alicerce
para o impossível existir.

Que o grão seja lembrança e guia,
da luta que transforma e recria.
Que no chão de areia, sempre vejamos
a riqueza do que podemos ser, quando juntos estamos.

No grão de areia repousa o tempo,
a história que não se dissolve.
É matéria que atravessa eras,
é memória que o vento revolve.

De montanhas erodidas,
de vulcões que rugiram ao nascer,
o grão guarda cada momento,
um testemunho do acontecer.

Ele viu o continente partir-se,
rios cortarem a terra em veias,
a marcha lenta do planeta,
esculpindo vidas em cadeias.

Cada grão é um fragmento,
de uma história maior que o olhar.
Na sua materialidade tão densa,
o passado e o futuro vão se encontrar.

Ele é chão das batalhas travadas,
das mãos que construíram destinos,
é palco onde a humanidade pisa,
sem notar seus rastros finos.

O grão, tão humilde e eterno,
carrega marcas do mundo em mudança.
Na luta do agora, ele ensina:
somos parte da mesma dança.

Pois não há história sem chão,
não há futuro sem matéria vivida.
No grão de areia está escrito
o peso e a leveza da vida.

O grão não é apenas matéria,
é experiência, presença, sentido.
Entre o toque e o olhar que o percebe,
revela um mundo antes escondido.

Ele é textura que desafia os dedos,
peso leve que habita o momento.
É silêncio que fala aos sentidos,
um eco do vasto firmamento.

Na sua pequenez, um universo,
que só se revela na atenção.
É forma em constante movimento,
entre o ser e a percepção.

O grão não apenas existe,
ele se mostra no ato de ser.
Um instante de pura presença,
que o olhar aprende a reconhecer.

Fenômeno da natureza e do tempo,
é sujeito e objeto a um só tempo.
Uma dança entre o que é visível
e o que escapa ao entendimento.

Assim, no grão de areia,
habita o mistério do real:
o encontro do que é palpável
com o que é eterno e ideal.

E na luta de existir e criar,
aprendemos com sua essência nua:
o grão é a prova tangível
de que o mundo vive na troca contínua.

O grão de areia persiste,
se transforma na luta e no chão.
É fragmento da terra esquecida,
mas também semente de construção.

Na consciência de quem o pisa,
ganha força, sentido e visão.
Cada grão é um trabalhador,
que se ergue na força da união.

Carrega no seu corpo pequeno
as marcas da opressão e do poder,
mas, na areia que forma a praia,
está o coletivo a renascer.

O grão não é só matéria dispersa,
é unidade na diversidade que avança.
Cada partícula, um elo do todo,
na luta que traz esperança.

Assim, o grão se faz classe,
organiza o chão e a ideia.
Transforma a poeira esquecida
na base firme de uma nova epopeia.

Quando a consciência desperta,
o grão é força e resistência.
Um pequeno gesto, um passo unido,
que rompe os grilhões da indiferença.

Na praia onde o amanhã se molda,
cada grão tem seu papel e razão.
Na luta de classe que constrói o mundo,
o grão de areia é revolução

Pesquisa

O texto nos convida a ouvir as histórias que as coisas pequenas têm a contar. No caso, o grão de areia, algo tão minúsculo que muitas vezes desaparece aos nossos olhos, ganha voz para revelar a grandeza que carrega. Ele é o elo perdido entre eras passadas e futuras, um fragmento do cosmos que guarda a memória das montanhas, dos rios e das mãos que moldaram sua forma. Cada grão, silencioso e aparentemente simples, traz em si um universo.

Essa voz do grão é mais do que uma narrativa poética; é uma reivindicação de pertencimento. Ele lembra que mesmo o menor e mais esquecido entre nós tem um papel a cumprir, seja na sustentação de castelos na praia ou na composição das grandes areias que moldam continentes. O grão representa as pessoas anônimas, aquelas que, invisíveis, sustentam os alicerces do mundo.

Há também uma mensagem política clara: a luta está no chão que pisamos, nos grãos que juntos formam as bases de revoluções. O grão é um símbolo da força coletiva, onde a união transforma o fragmento em algo monumental. Ele nos ensina que não há vitória sem base, sem chão, sem as pequenas partículas que constroem grandes estruturas.

Mas o poema vai além do humano e do político. Ele flerta com o transcendental, sugerindo que o grão é um pedaço do infinito, uma prova da eternidade que pulsa nas menores coisas. Há no grão uma potência cósmica, uma fusão de tempos, formas e histórias que só podem ser compreendidas na atenção plena, no ato de perceber o que é aparentemente banal.

Por fim, o grão se torna um mestre silencioso. Ele nos mostra que a beleza da vida está nos encontros: do vento e da terra, do tempo e da matéria, do indivíduo e do coletivo. Ele nos desafia a olhar além da superfície e encontrar no pequeno o reflexo do grande, no simples a complexidade da existência. Ele é um convite à ação, à resistência, à criação de um mundo onde até os menores entre nós sejam reconhecidos como portadores de universos.
Tem Luta!
Sigamos!!

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