Como a Inteligência Artificial pode servir à periferia?


A Inteligência Artificial (IA) vem sendo anunciada como uma das maiores transformações do nosso tempo. Em pouco tempo, passou de uma ferramenta experimental para se tornar presença constante na educação, nos serviços públicos, na indústria e até nas interações cotidianas. Mas, em meio a tanto entusiasmo, uma pergunta precisa ser feita com firmeza: quem está acessando a IA?

A maioria das comunidades periféricas ainda enfrenta dificuldades para garantir o básico — moradia, transporte, saúde, educação e segurança. A desigualdade estrutural também se manifesta no mundo digital: enquanto poucos acumulam dados, poder computacional e acesso, milhões de pessoas permanecem excluídas da nova era digital.

Neste cenário, a IA pode ser mais uma barreira ou uma ponte. A escolha depende de como vamos organizá-la social e politicamente.

IA como ferramenta para geração de renda com dignidade

A revolução digital abriu novas possibilidades para o trabalho e o empreendedorismo popular. Com acesso e formação adequados, é possível usar a IA para:

  • Criar materiais gráficos, vídeos, artes e textos de forma autônoma.
  • Otimizar pequenos negócios com organização financeira e atendimento ao cliente automatizado.
  • Ampliar o alcance de produtos por meio do marketing digital e gestão de redes sociais.
  • Desenvolver soluções locais em parceria com cooperativas, associações e iniciativas de economia solidária.

Mas para que isso seja geração de renda com dignidade, é fundamental garantir:

  • Formação crítica e técnica sobre o uso da IA.
  • Apoio público para estruturação de negócios populares com acesso à tecnologia.
  • Políticas de proteção trabalhista para que o uso da IA não signifique mais informalidade e precarização.

IA para a organização comunitária

Além da economia, a IA também pode apoiar a organização e mobilização popular. Coletivos, associações de bairro, escolas e movimentos sociais podem usar essas ferramentas para:

  • Mapear necessidades e recursos do território.
  • Criar plataformas comunitárias para denúncia, planejamento urbano e incidência política.
  • Produzir conteúdo acessível, impactante e estratégico para fortalecer a luta por direitos.

A inteligência aumentada, quando colocada a serviço da comunidade, pode ampliar a autonomia dos territórios e fortalecer a democracia de base.

O risco da precarização digital

Nenhuma dessas possibilidades será real se o uso da IA seguir a lógica atual: plataformas privadas, opacas e orientadas ao lucro. Há o risco concreto da IA se tornar uma nova forma de exploração do trabalho — os "bicos digitais", a uberização do conhecimento, a competição por migalhas de microtarefas online.

Por isso, precisamos lutar por soberania digital, regulação pública e políticas que protejam os trabalhadores e promovam o bem comum. A tecnologia não é neutra — ela deve ser orientada por valores de justiça social e dignidade.

Uma proposta em construção coletiva

O blog ppplebeu.blogspot e o Instituto Ideias no Lugar vêm construindo uma agenda de debates, formações e mobilização sobre o uso popular da IA, para atuar especialmente nas periferias. Há espaço para educadores, ativistas, pesquisadores e comunidades. Queremos:

  • Promover formações e oficinas sobre o uso popular da IA.
  • Defender o acesso à IA como um direito humano.
  • Construir propostas que articulem tecnologia, justiça social e soberania popular.

Essa é uma luta que conecta o presente com o futuro. Uma luta por dignidade, por autonomia e por justiça. Que a inteligência aumentada seja uma ferramenta do povo e para o povo.

Tem luta!

Sigamos!!

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