O Sentido Revolucionário do Diálogo Frente ao Bolsonarismo
Vivemos tempos em que o diálogo deixou de ser apenas uma virtude democrática e se tornou um gesto revolucionário. Desde a ascensão do bolsonarismo, o Brasil testemunhou uma radicalização da antipolítica, da violência simbólica e da recusa do outro. O bolsonarismo não foi apenas um projeto de poder, mas uma máquina de destruição do campo do diálogo. Ele transformou a conversa em confronto, o debate em briga, a escuta em zombaria. As palavras deixaram de ser pontes e passaram a ser armas. No lugar do argumento, o meme venenoso. No lugar da reflexão, o ataque. No lugar da escuta, o cancelamento e o silêncio forçado.
O
bolsonarismo aprofundou uma cultura do ódio onde o outro é sempre um inimigo e
nunca um interlocutor. Isso não aconteceu por acaso. O diálogo profundo é uma
ameaça real a qualquer projeto autoritário, porque o diálogo obriga a abrir a
escuta, a reconhecer a humanidade do outro, a expor as contradições da própria
visão de mundo. Por isso, a destruição do diálogo foi uma peça central do
bolsonarismo: desacreditar a imprensa, desqualificar a universidade, minar o
debate público, promover teorias conspiratórias, transformar o contraditório em
“inimigo da pátria”. A prática política bolsonarista é, no fundo, uma
estratégia de erosão simbólica. É um ataque à linguagem, à convivência e à
possibilidade de construção coletiva do sentido.
Por
isso, hoje, dialogar é revolucionário. Não se trata de conversa fiada ou de uma
simpatia vazia. Trata-se de reconstruir a possibilidade de convivência
simbólica em um país estilhaçado. E não estamos falando do diálogo superficial
das elites políticas, onde tudo se resolve entre cafés e tapinhas nas costas.
Estamos falando do diálogo real, radical, aquele que acontece na base da
sociedade. O diálogo que ouve a trabalhadora exausta, o jovem da periferia, o
evangélico simples, o pequeno comerciante assustado, o estudante precarizado,
todos capturados, em algum momento, pelas redes da desinformação, da
polarização e do medo.
Recuperar
o diálogo é devolver às pessoas a capacidade de pensar juntas, de criar mundos
possíveis, de discordar sem destruir. É enfrentar a cultura do ódio sem
reproduzir o ódio. É escutar as dores reais da população, sem conivência com o
fascismo, mas também sem cair na tentação da arrogância ilustrada. Dialogar não
significa concordar com tudo. Tampouco significa se calar diante do
negacionismo, do racismo, do machismo ou da destruição da democracia. O diálogo
revolucionário é aquele que confronta as violências, mas reconhece que ninguém
se transforma sendo tratado como lixo. É aquele que enfrenta as narrativas de
destruição sem abrir mão da paciência histórica, da escuta ativa e da criação
de alternativas.
O
bolsonarismo, mesmo fora do governo, continua operando no subsolo da sociedade
brasileira. Ele segue ativo nas redes sociais, nos grupos de WhatsApp, nas
conversas de esquina, nos discursos políticos que preferem o ressentimento à
construção. Por isso, retomar o campo do diálogo é tarefa urgente. Precisamos
recuperar o chão da palavra e da escuta. Precisamos reconstruir a confiança
mínima para que o país não afunde de vez na barbárie da pós-verdade e da
desinformação permanente. O diálogo, nesse contexto, não é conciliação de
cúpula. É prática de base, feita com coragem e generosidade. É escuta radical,
sem medo do conflito, sem recuo diante da luta simbólica e política que esse
tempo exige.
Dialogar
hoje no Brasil é revolucionário porque desafia a lógica da destruição do outro.
É recusar o medo, a indiferença e o cinismo. É reabrir a roda da conversa onde
caibam as diferenças, as divergências e as possibilidades de criação conjunta.
É o caminho para recuperar o tecido simbólico da democracia, para que a
política volte a ser um espaço de transformação e não um campo de guerra total.
Se
queremos reconstruir o Brasil, precisamos reconstruir o diálogo. Não há outro
caminho.
Tem
luta!
Sigamos!
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