O militante público: um câncer da luta.

A ação militante de cada um de nós é o maior patrimônio que possui a humanidade. A natureza da militância, seja em qual área for, seja qual interesse que priorize, seja qual for o tempo em que se desenvolva traz em seu bojo esta dimensão de importância para nossa existência. É o elemento essencial da ação para garantir nossa evolução com transformação cultural capaz de garantir a justiça e a igualdade. Aprofundar o poder natural, que tem cada um de nós, em perceber no outro a dimensão transcendental de nossa própria humanidade.

Não sei você, mas, das experiências que pude viver até agora: as relações com as pessoas, é o lugar que mais me completo, para o bem ou para o mal, como gente, como homem e, lógico como militante.

Vivo alegrias e tristezas em outras relações: como a arte, a leitura, a música, o trabalho e seu resultado,  o consumo, a igreja, enfim.... mas é nas relações com as pessoas que aprofundam-se os sentimentos, a percepção, os entendimentos e conhecimentos.

Olhar o que fala o militante, o que este sente e observa é uma oportunidade impar para avançar com "um mais", sobre aquilo que podemos ainda não conhecer, não ter falado ou não ter percebido e conhecido.

Infelizmente, esta dimensão de militância não é presente na ação de todos. É comum encontrarmos, por exemplo, professores(as), médicos(as), agricultores(as), operários(as) que vivem, existem de modo comum, sem militância.

Agir enquanto militante é sobretudo uma atitude e um estado de espírito. Um profissional de saúde, quando é um militante, passa a ser uma pessoa que reconstrói a cada momento sua relação com o mundo em que vive: aprofunda sua relação com seu próprio trabalho. É capaz de fazer a ligação ampla e construir uma forte percepção, do impacto que sua atividade laboral alcança, além de sua própria vida, na vida do outro, no ambiente em que vive, e compromete-se de modo ativo e protagonista nas relações sociais, políticas econômicas e culturais de seu entorno.

Um miltante é sempre uma pessoa que vive de modo mais profundo sua humanidade.

Interessante que o germe de ação, aquilo que dá origem ao ente militante, é sempre de natureza privada, particular e individual: possui influência e orientação do coletivo e da sociedade em que vive, porém, o espírito militante só aflora a partir de uma decisão pessoal de cada um. Por isto privado.

Faço esta reflexão para entrar no predicado que dá nome a este artigo. Não podemos nos enganar sobre nossa natureza militante. É correto, que a indignação pode ser o primeiro sentimento que conduza alguém para a atividade militante. Contudo outros sentimentos, outras percepções também podem levar ao mesmo caminho.  Penso que a militância de Jesus Cristo se deu pelo amor. A de Ghandi e de Tchê pela indignação. A de Dorothy pela vocação religiosa.

Possuem em comum estas nossas referências: o despojamento. Não se apegam às coisas. Por conta disto é importante perceber que a atitude militante se dá lá no lugar onde você está, e , principalmente, alí, "onde você está sendo" e "seu espírito está se formando".


Não é possível achar que o militante é aquele que se coloca dentro de um partido político e dentro das instâncias oficiais de ação política, e pronto. Aquele que caminha conforme sopra o vento. Compromissado somente com sua vida e seus próprios interesses.

A atividade militante, é sim, pela sua própria constituição, de profundas dimensões políticas, porém vai além desta. Quando se estabelece, se dá na vida. Nos faz sofrer, muitas vezes, mas por outro lado, nos coloca em contato direto e extremamente profundo com o exercício de nossa liberdade.

Militância não é emprego. A militância pública... só pública.... sem pertença a uma base social... não existe... não é... confunde... atrapalha.... é um câncer da luta. Toda militância é de natureza privada, pessoal, individual e intransferível. Só a partir daí, se transforma em patrimônio de todos nós. Passa "a ser" em nosso tempo, e caminha pela história.

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